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Foto do escritorDaniel Miranda

Hameln no Violin Hiki – Super Nintendo

O Violinista de Hamelin foi um mangá criado por Michiaki Watanabi. Ele foi adaptado para um filme e uma série de animação que fizeram certo sucesso na internet brasileira dos anos 2000. Eu assisti e não lembro muita coisa, exceto de ter gostado e que o final era muito triste e dramático. O visual dos personagens é bem distinto, a clara influência europeia dava um tom distinto ao anime e as aventuras eram interessantes.

Eu gosto muito de animes do final dos anos 80 e começo dos anos 90. Cowboy Bebop, Dragon’s Heaven, Neon Genesis Evangelion, Berserk, etc. Os computadores ainda não haviam dominado tudo, então a época me parece o ápice das animações japonesas 2D feitas à mão. Tudo tem um ar artesanal que, embora não seja fluido, pelo menos era charmoso.

Primeiro volume do mangá. A arte “pontuda” é bem caracterísitca da época.

O mangá de O Violinista de Hamelin era publicado em uma revista shounen chamada Monthly Shonen Gangan da Enix, uma empresa de jogos. Havia, na época, duas grandes empresas que dominavam os RPGs japoneses: a Enix, com a franquia Dragon Quest, e a Square, com a franquia Final Fantasy. Ambas se fundiram em 2001, mas até então a concorrência era forte. Não é estranho que, sendo publicado em uma revista de uma gigante dos jogos, o mangá O Violinista de Hamelin acabasse virando um jogo. Não é estranho também que, já que a empresa era famosa por RPGs, o jogo tivesse elementos de RPG. O que saiu disso tudo foi um dos jogos de plataforma mais encantadores do Super Nintendo.

O jogo foi lançado no dia 29 de setembro de 1995. O videogame da Nintendo já quase 5 anos, e a Enix já tinha muita experiência em produzir jogos para ele. Ao mesmo tempo, o que saia para o Super Nintendo já era visto como um pouco “ultrapassado”; isso porque o Playstation havia sido lançado há quase um ano e o Nintendo 64 estava a seis meses de chegar ao mundo. O mundo estava de olho em gráficos 3D e no armazenamento e na qualidade de áudio dos CD.

A capa tem estilo (e humor)

Desculpe-me a aula de história, mas isso tudo é para dizer que O Violinista de Hamelin é um canto de cisne de uma era. Um jogo de plataforma em um videogame 16 bits com uma maravilhosa arte pixel-art e uma jogabilidade interessante e única, feito por um pessoal com muita experiência.

Bem, no jogo controlamos Hamel. Ele usa seu violino gigantesco para infligir dano aos inimigos, mas precisa da ajuda de uma moça chamada Flauta para atravessar os muitos obstáculos do mundo. Flauta, ao se fantasiar, ganha poderes distintos. Ah, Hamel anda com o corvo chamado Oboé, que no jogo serve só para você ver se Flauta está te seguindo ou não.

Hameln usando Flauta com roupa de robô para atravessar uma seção com espinnhos.

Flauta é uma daquelas personagens que nos segue por aí, mas ela não é tão irritante quanto de costume. Em primeiro lugar, porque é imortal. Ao morrer, ela apenas perde dinheiro (ou nem perde, se você comprar um item específico) e fica fula. Em segundo lugar, ela é bem mais poderosa (no jogo) que Hamel, podendo até voar e causar bastante dano com certas fantasias.

E as fantasias são uma graça. Algumas se tornam inúteis após obtermos outras, algumas só são usadas uma vez, mas é tudo tão carismático que a única reclamação é que não haja mais fantasias. O jogo acaba se adaptando bem às possibilidades que elas oferecem. Hameln no Violin Hiki não é um jogo de plataforma focado em movimentos precisos, como um Super Mario ou Donkey Kong, mas sim um jogo de criatividade e possibilidades. Muitas vezes há uma alternativa mais fácil ao que se está fazendo. O jogo é pequeno, mas há bastante variedade nos cenários.

Todas as roupinhas que podem ser compradas/encontradas no jogo

Tendo tantos nomes musicais, é de se esperar uma boa trilha sonora. Bem, dá para ver o carinho que o som recebe na tela inicial: ela exige que o jogador escolha entre áudio mono ou estéreo. A trilhas é lotada de músicas clássicas com interpretações doces, bem relaxantes, e várias músicas originais igualmente tranquilas. A música tema, começando com grilos cantando, indo para “violinos” e depois para “flautas” mostra que os compositores tentaram levar os limites do S-SMP do Super Nintendo ao máximo.

Hameln no Violin Hiki é uma daquelas obras desconhecidas que sempre nos alegramos quando mais alguém conhece. O jogo sequer foi lançado em inglês, a tradução foi feita por fãs do grupo J2e Translations (valeu, pessoal). Foi traduzido também para o português brasileiro por fãs: não encontrei o nome da equipe, mas deixo também meu agradecimento. Além disso, há suporte a achievements (conquistas) feitas por fãs no RetroAchievements. Eles tem até miniaturas! Atualmente eu sou um décimo na lista de maiores pontuações no jogo, com meros 175 pontos.

A chance de um relançamento de Hameln no Violin Hiki é quase nula: jogos de plataforma perderam muito o seu destaque na mídia, o jogo provavelmente precisaria de uma nova negociação de licença e não creio que muita gente se importa com a franquia hoje em dia (por mais que o mangá tenha ganhado continuação). É um daqueles jogos que ficam perdidos em um limbo e dependem de fãs para não serem lembrados. Não sei se alguém que ler este texto vai joga-lo, mas talvez as belas imagens alegrem um pouco quem bater os olhos nelas. Pelo menos me alegram.

Até as cidades são charmosas

Comecei a escrever este texto umas duas semanas atrás e parei. Desde então, a Nintendo fez uma Direct cheia de “velharias”: Mother e Mother 2 (Earthbound Beginning e Earthbound) chegando ao serviço Nintendo Switch Online, remasterização de Chrono Cross + Radical Dreamers, remake de Advance Wars e Advance Wars 2, remake de Front Mission e Front Mission 2, port de Star Wars: The Force Unleashed, ports de Portal e Portal 2, ports de Klonoa e Klonoa 2 e remake HD-2D (no estilo Octopath Traveler) do RPG Live a Live – que será lançado pela primeira vez em inglês!

Acho isso ótimo! Um jogo bom é sempre um jogo bom. Levar a mídia a série é entender jogos como algo além do lançamento mais novo, brilhante e hypado. Trazer estes jogos para novos videogames significa mantê-los respirando, vivos, encantando jogadores do mundo todo.

Alguns dias depois, a Nintendo anunciou que irá encerrar o suporte ao eShop para consoles WiiU e 3DS, videogames da geração passada. Isso significa que mais de mil jogos (muitos deles exclusivos) não poderão mais ser comprados digitalmente. Muitos, se não forem interessantes de serem relançados (como me parece ser o caso de Hameln no Violin Hiki) nunca mais estarão disponíveis oficialmente. Jogos físicos podem ser encontrados em lojas de usados. Jogos digitais, só instalados em videogames usados (e, em muitos casos, a venda de contas é proibida).

Muito se perde quando o maior motivo para se preservar algo é o potencial de lucro. Aí, dependemos de meios alternativos para que parte da tão recente história dos jogos seja preservada. Mesmo pedaços obscuros de história como Hameln no Violin Hiki, um jogo que saiu no começo da época em que o 2D abria caminho para o (ou era atropelado pelo) 3D. Ele vive um paradoxo curioso: tivesse saído antes, talvez tivesse deixado uma marca maior, mas dificilmente seria tão bom – seu segredo é ser feito pelos maiores artesãos de uma arte que morria e foi traga de volta graças a jogos indies que nunca deixaram de amar os quadrados coloridos chamados pixels e sua arte meio impressionista.

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