No dia 5 de outubro estreou a mais aguardada sequência de um clássico da ficção científica, Blade Runner 2049, desta vez, dirigido por Denis Villeneuve (A chegada, 2016) que retrata os acontecimentos trinta anos após o primeiro filme Blade Runner de Ridley Scott (1982).
O universo de Blade Runner definitivamente voltou! Ao trazer novamente o clima Noir acoplado ao gênero Sci-Fi, Blade Runner 2049 reaviva os elementos que consagraram o “Blade original”.
O Clássico Blade Runner de 1982 nos apresenta a Tyrell Corporation que detém o domínio da evolução robótica criando os replicantes NEXUS seres virtualmente idênticos ao homem com inteligência equivalente, com força e agilidade superiores, porém, com tempo de vida de quatro anos. Os modelos NEXUS evoluíram até a fase NEXUS 6. Eles eram usados como escravos e serviam para explorar e colonizar outros planetas até que após um motim em uma colônia extraterrestre os mesmos foram declarados como ilegais na terra, tendo como punição a morte. A função de caçar e “aposentar” tais seres ficou à cargo dos esquadrões especiais da polícia: unidades Blade Runner. A partir daí, acompanhamos o Agente Rick Deckard (Harrison Ford) em Novembro de 2019 em sua jornada de investigação e caça aos replicantes transgressores ao mesmo tempo em que ele tenta resolver um conflito interno a partir de seu encontro com Rachel (Sean Young), uma replicante que deveria ser sua “missão”.
Em Blade Runner 2049 nota-se um agravamento da situação de sobrevivência na terra que piorou consideravelmente ao longo dos trinta anos tornando-a inabitável. Há um incentivo em deixar o planeta e atualmente existem nove colônias extraterrestres. Os replicantes continuam como no primeiro filme servindo para auxiliar no povoamento das mesmas, porém, o acesso aos humanos é restrito e somente os que possuem plena saúde passam nos testes de aptidão e são enviados para estes agrupamentos.
Em 2049 sabemos que a Tyrell Corporation faliu e seu espólio foi comprado pela Wallace Corporation que agora é a responsável pela produção dos novos projetos de replicantes mais avançados em relação aos do primeiro filme. Estes novos modelos são legalizados e tem como características não mentir e serem extremamente obedientes o que facilita o convívio com os humanos (seu tempo de vida é indeterminado). Porém, ainda existem reminiscentes dos modelos NEXUS antigos que vagam pela terra e que oferecem “risco” e precisam ser “aposentados”. A polícia de LA continua seu trabalho de “extermínio”. Acompanhamos o Agente K (Ryan Gosling) realizando seu trabalho de caça a estes seres. Durante sua jornada ele se depara com uma informação que pode mudar drasticamente a relação entre humanos e replicantes e consequentemente instaurar o caos nesta sociedade. A partir deste ponto, K questiona-se sobre sua relação com os humanos e com outros replicantes, sobre suas memórias e sua existência. E, quando você acha que sabe o que está acontecendo vem um Plot twist maravilhoso para fechar este clássico da melhor forma possível!
Na medida em que somos reintroduzidos neste universo, as memórias, referências e comparações aparecem inevitavelmente. A meu ver, as referências que são as memórias positivas, SEMPRE ganham. Reconhecer na tela elementos do primeiro filme, não tem preço! Blade Runner de 1982 se passa em 2019 e a tecnologia imaginada àquela época nem se compara ao que temos em 2017. Afinal, cadê meu carro voador? Em contrapartida, algumas tecnologias retratadas já seriam um prenúncio como a “digitalização das fotos”. Agente Deckard insere em sua “TV” uma foto e a vasculha: destaca quadrantes, amplia e até imprime a parte que servirá como ponto de partida para sua investigação.
O fato de Blade Runner 2049 ser exibido em 2017 não comprometeu o exercício feito pelos criadores sobre a projeção de avanço tecnológico a ser alcançado no futuro. Traçando um paralelo com a cena descrita acima, quando o Agente K utiliza um scanner em um material biológico e amplia drasticamente sua imagem até fazer “a descoberta” potencialmente perigosa já citada anteriormente, neste momento nos deparamos então com a projeção da técnica equivalente trinta anos depois.
A noção de continuidade entre o primeiro e o segundo filme é consolidada através da atmosfera fluida, da ambientação muito bem construída, da belíssima fotografia agora com mais claridade, do ritmo levemente mais rápido que o primeiro e da trilha sonora característica. Esta última contribui inevitavelmente para uma conexão emocional amplificada. Ao fazer uso de tais recursos, Villeneuve nos faz experimentar melancolia, perplexidade, raiva, tensão, surpresa, compaixão e acima de tudo: deslumbramento.
É importante ressaltar que a experiência descrita anteriormente não é exclusiva dos fãs de “Blade”, pois, o filme funciona bem como estória independente e mesmo para os “humanos de primeira viagem” traz contextualizações e explicações que suprem as possíveis dúvidas. Os elementos que servem de alicerce para a estória nos guiam numa jornada reflexiva sobre moralidade, preconceito, avanço tecnológico, qualidade de vida, emoções genuínas, humanidade, prisão, perpetuação da vida, memórias, amor… Dentre tantas outras questões que podem ser enumeradas devido à complexidade e profundidade das interrogações que podem advir deste filme.
Entre os pontos técnicos do filme, que prima pelo rigor e qualidade de execução, destacam-se: a trilha sonora de Benjamim Wallfisch e Hans Zimmer que emulam a trilha de Vangelis do filme original, a fotografia belíssima e coerente de Roger Deakins e o figurino impecável de Renée April. Em relação às atuações, Sylvia Hoeks sobressai-se ao interpretar a obstinada “pele falsa” Luv (a quem amamos odiar), Ana de Armas nos encanta ao dar vida a doce Joi que trouxe um contraponto interessante ao relembrar K seu componente humano e por último, mas não menos importante, Harrison Ford como Deckard que volta para nos trazer informações preciosas e nos emocionar lindamente com sua atuação na “melhor idade”.
Sirvo cinco pães de queijo bem quentinhos em cinco para humanos e replicantes!!!
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