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Foto do escritorLai Caetano

Vingança e castigo: as pessoas por trás dos personagens

Quem acompanhou notícias sobre o filme e o evento TUDUM, promovido pela Netflix, sabe que os personagens principais do recente lançamento da empresa existiram na vida real. Sem trazer spoilers, reunimos as principais informações sobre essas personalidades histórias para deixar mais rica a sua experiência com esse excelente filme.

NAT LOVE

Interpretado no filme por Johnatan Majors (LOKI, Lovecraft Country), Nat Love está atrás de vingança por algo que aconteceu com ele no passado e todos os arcos do filme se entrelaçam com esse objetivo.

Nat Love, nascido em 1854, escravo na fazenda de Roberto Love localizada no Tenessee, aprendeu a ler e escrever com seu pai, contrariando as leis da época. Na primeira oportunidade que teve, reuniu dinheiro e deixou a fazenda, se mudando para o oeste (nos EUA os escravos foram emancipados em 1863 por Abraham Lincoln). Trabalhou em fazendas no Kansas e Arizona onde aprendeu a atirar muito bem e ser cowboy, mas não era um “fora da lei”, diferente de como é mostrado no filme. Por volta de 1890 decidiu abandonar essa vida de aventuras e se mudou para Califórnia com a esposa. Morreu em 1921.

Se você tiver interesse na história de uma das pessoas mais famosas do Velho Oeste, tem um livro “The life and adverntures of Nat Love“, que era mais conhecido por “Deadwood Dick”. O livro foi escrito por ele próprio e publicado em 1907 (que só tem em inglês e sai de graça para quem tem Kindle Unlimited). Ele já esteve nas telonas antes nos filmes The Cherokee Kid (1996) e They Die by Dawn (2013).

RUFUS BUCK

Interpretado por Idris Elba, Rufus é um fora da lei, líder de uma temida gangue e com grande fama pelo velho oeste.

Na vida real liderou uma gangue entre 1895 e 1896, composta por jovens, índios cherokees e afro-americanos, que cometeram uma série de crimes nas regiões de Oklahoma. Olha a foto deles:

A gangue era brutal e perversa e ao contrário de muitas gangues do Velho Oeste, a turma de Buck não é celebrada. Depois de um tiroteio com a polícia que durou quase um dia inteiro, a gangue se rendeu e todos foram mortos numa condenação, por assassinatos e estupros, tendo como sentença o enforcamento em 1896.

STAGECOACH MARY

Zazie Beetz dá a vida a Stagecoach Mary no filme, uma mulher dona de cabarés e outros negócios que começou a tomar frente depois de largar para trás uma vida em gangue.

Na vida real, a também conhecida como Mary Fields ou Black Mary nasceu em 1832 em Tenessee, no berço da escravidão, e foi emancipada com o fim da guerra civil embora continuasse trabalhando como serva na casa das pessoas. Morou um tempo num convento e aprendeu vários ofícios relegados, à época, a homens (como reparos, manutenção, jardinagem, transporte de cargas, etc.). Com um gênio temperamental e um incidente envolvendo tiroteio (mas nunca tendo relação nenhuma com crimes), Mary foi barrada no convento e se mudou para Cascade, onde abriu uma taverna. Ela atirava muito bem e andava sempre com armas de fogo para se proteger. A taverna faliu em pouco tempo e Mary virou, aos sessenta anos, um emprego para entregar correspondências: ser destemida e não faltar com uma entrega sequer lhe deram fama. Foi a primeira afro-americana a trabalhar na rota estelar para uma transportadora de correios nos EUA.

Netflix chegou a ser acusada aqui de embranquecimento de Mary por conta da escalação de Beetz. Esse é um debate muito sério que não tenho muita propriedade para falar mas acho importante registrar em como esse “detalhe” pode acabar por apagar a história de Mary, que era retinta, mais velha e conseguiu conquistar muitas coisas num contexto em que tudo foi-lhe negado, durante toda a sua vida. Vou indicar um texto bacana sobre isso aqui (em inglês mas permite tradução pelo navegador).

CATHAY “CUFFE” WILLIAMS

Falar de Cuffe no filme sem dar um pouco de spoiler é impossível, mas seria injusto falar de vários personagens do filme na vida real sem qualquer menção à Cuffe da vida real. Interpretada por Danielle Deadwyler, Cuffie se identifica como um rapaz, até que durante a trama revela seu verdadeiro nome. Isso é legal porque conversa com a história real de Cuffe e com o estereótipo feminino em filmes de velho oeste.

Nasceu no Missouri em 1844 e trabalhou como escrava durante a sua adolescência. Em 1861 forças do governo ocuparam a região naquilo que seria o berço da Guerra Civil, e os escravos capturados eram forçados a servir como apoio militar. Williams, nessa época, serviu como cozinheira e lavadeira até se alistar voluntariamente como soldado aos 17 anos, em 1866 com o nome de William Cathay (pois mulheres eram proibidas de alistar). Demorou muito até que descobrissem sua real identidade – ela havia contraído varíola e foi descoberta durante a internação – e quando o comandante do posto tomou conhecimento, a dispensou com grandes honrarias em 1868. Mesmo assim ela continuou auxiliando o exército e escreveu o regimento negro emergente (para auxiliar os lendários soldados búfalos). Conseguiu empregos como cozinheira e costureira e chegou a ser entrevistada pelo St. Louis Dialy Times para registrar sua vida militar.

TRUDY SMITH

Regina King dá a vida a Trudy, uma mulher imponente dentro e fora da gangue, inteligente e temida por muitos. Muito pouco se sabe sobre a vida de Gertrude Smith além dela ter sido uma famosa batedora de carteiras.

CHEROKEE BILL

Vivido por Lakeith Stanfield, no filme Cherokee Bill é um homem famoso pela rapidez no gatilho. Na vida real, Crawford Goldsby nasceu em 1876 no Texas, filho de um militar e uma cherokee. Serviu durante a Guerra Civil e depois virou um fora da lei aos 18 anos. Depois que integrou uma gangue, praticou muitos crimes entre assaltos e assassinatos e por isso foi julgado e condenado à morte, tendo sido enforcado em 1986.

JAMES BECKWOURTH

O jovem CJ Cyler dá a vida a James Beckwourth no filme, membro de uma gangue que sonha em se tornar o mais rápido do mundo no gatilho e se vê obrigado a encontrar seu principal concorrente nessa jornada, Cherokee Bill. Na vida real Beckwourth nasceu em 1798 em Denver, filho de pai branco e mãe escrava. Era um explorador, comerciante de peles e um homem da montanha. Não era um fora da lei: em verdade trabalhou para o exército. Foi contratado pelos EUA como batedor de cavalaria e participou do massacre de Sand Creek em 1984, acontecimento que o deixou transtornado e, segundo a lenda, o levou a morrer de “causas naturais” em 1866.

DELEGADO BASS REEVES

Interpretado por Delroy Lindo, no filme ele é um homem da lei, marechal de Douglastown responsável por prender vários membros de gangue.

A vida de Reeves é das mais fascinantes dessa lista (só perdendo, pra mim, para Cuffie). Nasceu em 1838 no Arkansas, filho de escravos. Serviu ao exército confederado durante a Guerra Civil, mas fugiu depois de uma aparente briga com seu pai e foi viver em meio a Cherokkes, Creeks e Seminoles (tribos nativo-americanas), até ser libertado da escravidão. Em 1875 foi contratado como delegado por sua experiência com povos nativos e com o exército. Ele foi o primeiro delegado negro à oeste do Mississipi, era um excelente atirador e investigador. Foi responsável pela prisão de mais de 3 mil criminosos e apesar de ter sido baleado várias vezes, nunca foi gravemente ferido. Morreu de nefrite em 1910.

Uma curiosidade: reza a lenda que foi Reeves uma das maiores inspirações para Django, de Tarantino.

BILL PRICKETT

Interpretado por Edi Gathegi, Prickett era na verdade uma celebridade dos rodeios e do universo dos cowboys. Nasceu no Texas em 1870, descendente de índios e escravos, e morreu em 1932, Oklahoma, ironicamente depois de ser chutado por um cavalo. Inventou uma técnica conhecida por “bulldogging” em que um cowboy luta na arena contra um touro. Não era um fora da lei nem tinha experiência com armas. Ele participou de dois filmes mudos: The Bull Dogger (1921) e The Crimson Skull (1922). A biografia dele pode ser lida aqui.

Curioso que muitas dessas figuras que marcaram a história de pessoas negras no Velho Oeste serviram durante a Guerra Civil, um dos eventos mais sangrentos da história norte-americana.

O que vocês acharam? A história das pessoas que deram vida aos personagens era realmente aquilo que vocês esperavam?

Não se esqueçam que o filme tem a atenção de avisar que os personagens foram inspirados em pessoas que realmente existiram mas é uma obra fictícia. Então, independentemente da história real por trás de cada um, o filme é excelente e vai cativar até mesmo quem não é fã de filmes de velho oeste.

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