De acordo com a sinopse, em The Northman (O Homem do Norte), depois de testemunhar a morte de seu pai, o Rei, pelo seu tio Fjölnir, e presenciar sua mãe e o reino de sua linhagem serem tomados, o jovem príncipe Amleth inicia a sua jornada em busca de vingança e justiça. O filme estreou nos EUA no final de abril.
Robert Eggers assume a direção e o roteiro, este último junto com o novelista Sjón. Esse filme pode ser uma experiência diferente para quem já assistiu outros trabalhos do diretor, como A Bruxa e O Farol. São filmes cuja riqueza cultural demarcada pela época, a dramaticidade dos quadros e da narrativa constituem elementos essenciais para nos envolver na história.
Inspiração
Esse trecho, embora não seja sobre o filme, pode trazer alguns spoilers por ser um resumo da lenda contada no livro. O filme não é a adaptação do conto, mas parte dele para contar a história. A história é baseada num conto escandinavo que foi inspiração para Hamlet (um anagrama de Amleth), de Shakespeare. Caso não queira saber, vá para o próximo tópico.
A lenda de Amleth: uma síntese
O original gira em torno de uma traição familiar quando dois irmãos (Horwendil e Fengo) são nomeados senhores da terra de Jutland pelo rei Rørik da Dinamarca. Horwendil mata o rei da Noruega, casa-se com a filha do rei Rørik, Gerutha, e eles têm um filho chamado Amleth.
Consumido pela inveja, Fengo mata seu irmão, Horwendil, e se casa com sua esposa Gerutha. Amleth então finge loucura como forma de se proteger da violência do tio e poder desenhar um plano de vingança. Mesmo assim, Amleth começa a levantar suspeitas do Rei Fengo, que usa de ardis para tentar prendê-lo, em vão. Primeiro, usa uma bela mulher para atrair o sobrinho, mas ela acaba fiel à ele. Depois usa um espião, mas ele percebe e o mata. Por fim, Fengo o deporta à Inglaterra com uma escolta e um pedido de execução dirigido ao rei inglês.
Amleth consegue interceptar a carta e trocar por outra, que culmina com ele frustrando os planos do tio e ele se casando com uma princesa inglesa. Dando seguimento ao objetivo de justiça, em meio a seu funeral encenado, chega Amleth em um disfarce e mata seu tio, vingando seus pais. Logo depois é coroado Rei.
Essa lenda escandinava foi transcrita pela primeira vez por volta de 1200 pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus e integra uma coleção de contos místicos conhecida como Gesta Danorum. Se quiser saber mais sobre o conto, sugiro a leitura em Mediavalists (é possível traduzir o texto pelo navegador).
Elenco
Alexander Skarsgard (Big Little Lies) vive pela segunda vez um príncipe nórdico que busca vingança. Na série True Blood (2008), viveu Eric Northman, e o ator já confessou que buscou essa inspiração para interpretar Almeth. Naquela época Skarsgard, sonhava interpretar uma grande figura nórdica de forma mais autêntica, mas não imaginava que isso ia acabar acontecendo um dia.
Imagem: divulgação
Nicole Kidman (Big Little Lies) vive a Rainha Gudrún cujo arco lembra o da Rainha Gerutha. É uma personagem incrível, voraz e forte. Não é o melhor papel de Kidman mas ela realmente sabe se fazer presente nas suas cenas.
Olga, interpretada por Anya Taylor Joy, é uma personagem âncora mas seu misticismo e a simbologia dela ocupa papel importante dentro da mitologia nórdica.
Imagem: divulgação
Hawke vive o Rei Aruvandill War-Raven, um homem que precede a sua fama de conquistador, tem uma família formada e um reino pacificado. Dafoe faz o papel de Heimir, uma espécie de bobo da corte que, apesar da língua afiada e humor ácido, conta com a proteção do Rei Aruvandill.
Imagem: divulgação
Claes Bang (Drácula) está muito bem no papel de Fjölnir The Brotherless, mas não dá para falar muito sem revelar partes importantes do filme. Digo o mesmo de Björk que, embora tenha uma pequena participação, é bem marcante. Aliás, reza a lenda que a sua filha, Ísadóra Bjarkardóttir, está no filme como Melkorka mas sinceramente não consegui identificá-la.
Produção
Os trabalhos de Eggers são marcados por uma fotografia única, dramática e rica em símbolos. Não é a toa que isso esteja também em O Homem do Norte, já que Jarin Blaschke, que foi responsável pela fotografia também em A bruxa e O Farol, trabalhou no filme. Tem cenas que são guiadas apenas pelas imagens e a música e conseguimos captar com muita facilidade a mensagem que é passada.
Craig Lathrop, que também trabalhou com o diretor anteriormente, volta para o design de produção, reforçando uma identidade que é cada vez mais reforçada nos trabalhos de Eggers. Linda Muir, costume design, que também trabalhou em A Bruxa e O Farol, está aqui mostrando sua versatilidade sem perder a essência soturna dos filmes.
Outros nomes importantes estão na direção de arte, como Robert Cowper (Rogue One, Star Wars: The Force Awakens), na decoração com Pancho Chamorro (Eternals, Red Notice) e Niamh Coulter (Dunkirk, Antes de Dormir). A trilha sonora é creditada aos compositores Sebastian Gainsborough e Robin Carolan que, apesar de poucos trabalhos de grande renome, fizeram um trabalho espetacular nesse filme.
Referências
Claro que deve ter milhares de referências e cada um deve saber enxergar algumas, mas particularmente, algumas cenas me lembraram partes do jogo Hellblade: The Senua Sacrifice, e outras, trabalhos de Frank Frazetta. Temos, inclusive, um texto bacana sobre esse jogo aqui.
Para as gravações, a equipe recriou um vilarejo na costa leste da Irlanda do Norte, em Antrim Hills, e na Irlanda, em Glenifff Horseshoe, o que são lugares bonitos por si só.
Imagem: divulgação
Porém, as cenas que mais nos tiram o fôlego foram aquelas gravadas na Islândia e no pé de um vulcão ativo (cujo cenário foi recriado mas, mesmo assim, é incrível).
Imagem: divulgação
Vale a pena?
The Northman é uma obra-prima do cinema, algo único que mostra o amadurecimento do diretor e um aprofundamento de sua visão. Ele mesmo já revelou, em entrevista, que esse é o maior projeto de sua carreira tanto pela dedicação da equipe quanto pelas locações e cenários.
The Northman chega aos cinemas do Brasil em 12/05/2022. O filme tem sido descrito como “audacioso”, “destemido” e “audacioso” e não há hipérbole aqui. É realmente grandioso.
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