A série, produzida pelo canal SyFy mas distribuída pela Netflix fora dos EUA. É protagonizada por Kelly Overton (Dead or Alive), é ambientada num universo pós apocalíptico – o que não é novidade em relação as demais séries já produzidas, que seguem a mesma premissa. A novidade é que, em vez de zumbis, temos vampiros que se organizam em várias escalas de evolução, grupos, raças e hierarquia.
Honestamente comecei a assistir a série depois da propaganda que a Netflix fez na minha página inicial. A primeira temporada começa no ano de 2019, com o militar Axel (Jonathan Scarfe) junto com outros colegas, recebem a missão de proteger, com a vida, o corpo de uma misteriosa mulher que está adormecida. O apocalipse (The Rising) acontece, vampiros dominam as cidades e a humanidade recua e se esconde. Os soldados, com essa missão de proteger a “bela adormecida”, veem o apocalipse acontecendo e protegem o prédio em que estão, criando, com o passar dos anos (3 anos), uma verdadeira fortaleza.
Num belo dia um grupo de vampiros descobre como penetrar essa fortaleza e Axel, que estava sozinho no bunker, não consegue cumprir a sua missão e os vampiros conseguem adentrar na sala em que a mulher estava repousando, sugando seu sangue. Nesse momento muitas revelações importantes para a premissa da série acontecem, então vou poupar o spoiler porque o objetivo aqui é convencer vocês a assistirem.
A bela adormecida chama-se Vanessa Helsing e, sem explicar de início se há uma relação direta com Van Helsing das lendas que conhecemos, já entendemos que existe algo de muito especial e valioso nela.Kelly Overton está sensacional. É uma atriz que luta e essa habilidade empresta emoção e realismo nas cenas de ação. Vanessa é capaz de criar um estrago em qualquer criatura quando pega um objeto que está em seu caminho e usa como arma e, ao contrário dos socos vacilantes de Michele Rodriguez (em Velozes e Furiosos), você se convence de que realmente está tendo uma luta ali. Na verdade são poucas as vezes em que ela está com uma arma de fogo na mão e essa ferocidade enriquece muito a personagem, podendo chegar ao frenesi.
Os vampiros são bem desenvolvidos no roteiro com referências bem claras para quem leu ou jogou “Vampiro: A Máscara”. Existem vampiros com características bestiais que mal conseguem falar e vivem no subterrâneo (seriam tipo Nosferatu). Um dos vampiros que servem Julius, parece sofrer de uma grave perturbação (um Malkaviano, será?), existem vampiros mais brutos, que curtem uma briga. Temos ainda Antanasia e Dmitri, aparentes líderes e nobres (Toreador, provavelmente) e vários outros genéricos que simplesmente por terem sido mordidos por um vampiro, se transformam em vampiros mas sem muita peculiaridade. O que acontece, aliás, após cada transformação, é que todos se tornam meio “besta”, sem instintos que os faziam humanos.
Um grupo se forma, como era o esperado, e o líder (não eleito) acaba sendo Axel por conta do seu conhecimento militar e a capacidade de manter o grupo em segurança. Muitos possuem um objetivo em comum de ir para um local mais seguro e Vanessa está em busca da sua filha, pois se perdeu dela pouco antes do apocalipse. Paralelamente a essa questão da sobrevivência, o grupo precisa lidar com as diferenças e, ainda, com assassinatos que tem acontecido misteriosamente dentro do próprio grupo.
A primeira temporada possui 13 episódios que correm num ritmo coerente, sem se tornar cansativo. Alguns personagens são bem trab alhados, contribuindo para o desenvolvimento da história principal, mas outros são deixados de lado, normalmente porque vão acabar morrendo antes que a temporada termine. O final é de deixar arrepiado e claro, pra quem chegou até ali, fazer esperar ansioso pela próxima temporada.A segunda temporada, com estreia em outubro de 2017, foi disponibilizada na Netflix em janeiro de 2018, também com 13 episódios.
Nessa nova temporada, são exploradas não só as origens de Vanessa e a sua motivação para continuar vivendo nesse mundo destruído, mas também a série explora os outros personagens, separando cada grupo em um núcleo diferente. Como era de se esperar, são apresentados diversos outros personagens novos em cada núcleo que vão tendo a sua importância no desenvolvimento da história, sendo trazidos com maior aprofundamento e mais nuances. Não que essa série se propõe a explorar a complexidade do ser humano e etc., mas dentro do que ela pretende fazer, faz muito bem e sem perder o ritmo da trama principal que envolve Vanessa.
Alguns personagens da primeira temporada que ainda estão vivos são aprofundados, como o Flesh que, em meio a seus pesadelos de quando ainda era vampiro, tenta se aproximar de uma mulher e engatar um romance e Sam, com um episódio dedicado a explicar sua história e motivação. Até mesmo a Doc, que conseguiu ser uma das personagens mais odiadas da primeira temporada pelos telespectadores, tenta dar a volta por cima e ser uma pessoa melhor. Cada um deles está em uma parte, e a história vai desenvolvendo bem mesmo com todo o núcleo da primeira temporada separado.
Vanessa cresce bastante nessa segunda temporada e descobre outros efeitos que a sua linhagem lhe proporciona. Descobre sua origem, sua família e sua história, tudo acontecendo aos poucos durante a série. As cenas de luta continuam muito bem executadas e Vanessa, quando entra no frenesi, sequer se preocupa em pegar algum martelo para usar de arma. A mulher encara um grupo de vampiros sozinha e mesmo apanhando muito, consegue se sair bem. Mesmo com o sangue que tem, Vanessa termina as lutas cansada, ensanguentada e as vezes até dolorida, o que dá uma pitada de “realidade” e fragilidade à personagem, reforçando o seu lado humano.
Novos personagens vampirescos são apresentados, mostrando que tanto para humanos quanto vampiros o mundo vai mundo além do que aquele bunker da primeira temporada. Pra mim uma das coisas que a segunda temporada pecou foi nisso. Fazem um mistério sobre algumas novas classes de vampiro, como seres muito fortes e que nos dão medo só de olhar, porém algumas vezes somos decepcionados quando esses conceitos entram em ação.
Nada que, como um todo, faça a série cair no conceito ou ser ruim, porque por outro lado os humanos conseguem descobrir comportamentos novos nos vampiros que nos deixam instigados. A segunda temporada termina muito bem, fechando algumas pontas soltas e criando outras premissas para a terceira temporada que já foi, inclusive, confirmada.
Van Helsing não pretende ser a melhor série sobre vampiros ou mundo pós-apocalíptico que você verá, nem se coloca como uma superprodução nem nada disso, mas certamente, dentro daquilo que ela despretensiosamente propõe, é uma série boa, com história redonda e personagens interessantes e, se você curte esse tipo de trama, vai curtir a série também!
Fiquem com o trailer da primeira temporada, que nem é grandes coisas, para dar uma aguçada de leve (o da segunda já entrega alguns spoilers)
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