Rain Man é um daqueles filmes feitos pra gente assistir e ficar se sentindo um babaca depois que ele acaba. Não é exatamente uma obra original, mas o tema é sempre recorrente, e vale refletir sobre isso toda vez que o tema nos é proposto: Doença mental, e relacionamento com doentes mentais.
Sobre o roteiro: Nem todo mundo convive com doentes mentais, nem todo mundo tem uma história próxima para contar (eu por exemplo, o caso mais próximo é o filho de uma prima que vejo uma vez por ano e olhe lá), mas para outras pessoas, principalmente para quem tem um caso na família, este roteiro pode ser especificamente mais dramático, justamente pela possível identificação que pode ocorrer em relação ao que acontece no filme.
Tom Cruise vive aqui o papel de um típico Playboy americano do anos 80, com sua vida fútil, seu carro conversível e seus óculos escuros da moda. O típico sonho americano. E ao perder seu pai (com quem não tinha o mais invejável dos relacionamentos), descobre no testamento dele que possui um irmão, muitos anos mais velho, que possui um elevado nível de autismo, e que está internado em uma boa clínica psiquiátrica. Porém, a considerável fortuna da família foi herdada por este irmão. Com interesse apenas no dinheiro, o jovem passa a tentar de todas as formas assumir a tutela de seu desafortunado irmão, a fim de administrar assim o seu novo patrimônio. Os médicos percebem suas intenções nada nobres, e se recusam a permitir isso. Dessa forma, ele “rapta” seu irmão (que não entende nada do que está acontecendo), para que possa tentar de alguma forma pegar a herança para si.
E aí o filme começa a ficar realmente interessante, pois uma vez na companhia de seu problemático irmão, ele começa a passar por situações que nunca imaginaria passar, e vai vivendo experiências cada vez mais extremas, o que vai mexendo muito com o seu caráter e seus valores. Daí por diante, o filme ganha contornos que, embora não inovem em nada, são sempre instrutivos. Se torna mais um daqueles filmes pra categoria de “lição de vida”, “de dar um nó na garganta”, e tudo mais. 23 anos depois do seu lançamento, creio que já mereça o status de um “clássico”, e certamente uma referência, tanto no seu delicado tema, quanto no gênero. Além de um marco na carreira de dois brilhantes atores de Hollywood, Cruise e Dustin Hoffman. Um filme inesquecível.
O que esse filme tem de especial? Uma excelente atuação de Tom Cruise, mas eu creio que seja a melhor atuação de Dustin Hoffman que eu me lembro. Interpretar um doente mental é sempre difícil, e fazê-lo de forma convincente é sempre um mérito singular. Brad Pitt em 12 monkeys e Jack Nicholson (embora o filme não deixe bem claro se ele só fingia) em One flew over the cuckoo’s nest são atuações igualmente marcantes em personagens de características semelhantes. Para quem gostou de algum destes filmes, recomendo os outros dois. Os aspectos técnicos não deixam a desejar, fazem jus a absurda qualidade de seu elenco, roteiro e direção. Excelente fotografia (tem alguma coisa nos filmes dos anos 80 que faz com que quase todos eles tenham uma fotografia bem parecida uns com os outros, consequentemente muito boa e característica do período), trilha sonora, e tudo mais. Destaque para as cenas das crises, como a do aeroporto, e a clássica cena da banheira com água quente (“Água quente queima o bebê! Água quente queima o bebê!”). Vale lembrar que o filme foi laureado com os Oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro e melhor ator (Hoffman).
Quando e com quem assistir a esse filme? Dramas são filmes que requerem algum compromisso, um pouco mais de atenção. E este é um filme que vale a pena assistir. Seja sensível ao escolher uma companhia que possa ter alguma identificação com o roteiro, e tudo bem. Não tem cenas pesadas, mas não é um filme leve.
Ficha técnica
Elenco:
Dustin Hofman – Raymond Rabbitt
Tom Cruise – Charlie Rabbitt
Valeria Golino – Susanna
Direção: Barry Levinson
Produção: Mark Johnson
Roteiro: Ronald Bass & Barry Morrow
Trilha sonora: Hans Zimmer
1988 – EUA – 133 minutos – Drama
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