Em abril estreou no Netflix uma série, assinada por Matt Sazama e Burk Shaspless, inspirada em outra série produzida nos anos 60 (que se inspirou em diversas outras histórias, como Robinson Crusoé). Teve também uma série nos anos 90, que bebeu da mesma fonte.
Conta a historia dos Robinsons, uma família, que junto com milhares de outras, que é selecionada por um programa nacional para fazer uma viagem no espaço e morar em outro planeta, a “Colônia”, uma vez que a vida na terra está prestes a se tornar inviável.
Dá pra falar, bem a grosso modo, que se você viu “Titan” (um filme que estreou esse ano pela rede de streaming mas está longe de ser bom), é como se Perdidos no Espaço fosse uma continuação daquele contexto que apresentam nesse filme. Não há relação nenhuma entre os dois, mas como estrearam na mesma época (que inclusive, foi quando assisti a ambos), acabei fazendo esse paralelo.
A família Robinson é formada pelo casal John (Toby Stephens) e Maureen (Molly Parker), ele oficial do exército que passou boa parte de sua vida em missões no oriente médio, e ela, cientista aeroespacial, cabeça da família e idealizadora do projeto que futuramente iria levar a humanidade para habitar um outro planeta. Possuem três filhos: Judy, a mais velha (do primeiro casamento de Maureen), Penny, rebelde e sarcástica, e o caçula Will, um nerd e com toda a inocência que uma criança tem direito.
Existem outros personagens da Alpha Centuri, como Dom e a galinha (meus favoritos). Como contraponto, temos a vilã, Dra. Smith (uma homenagem ao Dr. Smith da série original), uma personagem tão bem construída que é impossível sentir por ela qualquer coisa boa, já que além de ruim, ela é muito inteligente.
Ao iniciar a viagem para o espaço, dentro de uma nave mãe, Aplha Centouri, a população é atacada e muitos são forçados a irem para suas naves (as Jupters, que são uma “casa” praticamente) e se destacar da unidade, daí acompanhamos como os Robinsons foram parar num planeta desabitado e bem estranho.
As personagens femininas são muito focadas na história, mostrando sua autonomia e independência, tal qual qualquer outro personagem. Elas também erram e seus erros não são atribuídos ao fato de apenas serem mulheres (por exemplo, frágeis, inexperientes etc.), mas sim a outros fatores. Em resumo a série aborda as pessoas em si, com suas qualidades e defeitos, com tanta naturalidade que pra maioria, nem nota a diferença de ter duas mulheres como contraponto principal da história, Maureen e Dra. Smith, sem que a briga delas seja por causa de um namorado, por exemplo. Nem precisamos reforçar que os tempos são outros e que produções assim estão cada vez mais comuns.
Num geral, cada personagem é muito bem explorado de acordo com o background que cada um possui. John Robinson tenta se reconectar com a família e com a esposa, e diante de sua larga experiência no exército, toma frente de tarefas árduas e estratégicas; Judy, recém iniciada no curso de medicina, tenta fazer o possível para cuidar de algumas pessoas a bordo e por aí vai; o Robô é visto de uma forma muito peculiar e acolhido, por Will, como alguém da “família” e Will, o caçula, muito inocente, por conta de suas escolhas é responsável por quase todas as coisas ruins que ocorrem na série. (pois falar demais dos personagens sem dar spoiler não vai ser possível).
A caracterização e os cenários são também ponto forte, aliado aos efeitos especiais. Todos os personagens usam roupas especiais durante a viagem, trajes com alta tecnologia. A Júpter é uma casa bem confortável, o mesmo modelo para todas as famílias, porém com vários elementos que, justificado pela série, tornam a viagem ao espaço possível, como um campo hermético central (que em caso de perigo, serve de bunker para proteger quem estiver dentro); uma “garagem” com um módulo automóvel para exploração e transporte, impressora 3D (se eu não disse antes, a serie não é tão futurística assim, ela ocorre poucos anos a frente de hoje), cockpit com muitos controles e assentos para a família; comidas de astronauta; dispensa; etc.
O contato com outras coisas não terráqueas também é tratado de uma forma bem legal na série e o planeta em que os Robinsons se veem obrigados a aterrissar é, aparentemente, inofensivo por se assemelhar ao planeta Terra, porém repleto de mistérios.
Veredicto A série, de 10 episódios de pouco mais de 40 minutos, é uma delícia de ser assistida. O ritmo é dinâmico, contando a história em ritmo de flashback agregando detalhes importantes a cada núcleo. Os vários núcleos se desenvolvem paralelamente e todos os personagens principais são cada vez mais aprofundados em cada episódio. Imagine como uma longa “Sessão da Tarde”, que vai te divertir, te deixar triste, com raiva e até feliz em vários momentos. Tão boa que quando acaba, você não entende que é o fim e já fica ansioso para a próxima temporada.
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