Hoje foi a pré-estreia de Pantera Negra 2: Wakanda Forever e fomos conferir o filme. Vamos contar o que achamos, sem dar spoiler. Amanhã sai um texto especial sobre Shuri e a jornada da heroína.
O filme tem dividido opiniões entre os fãs. Isso não é ruim e pretendo explicar um pouco o porquê.
Um filme sobre emoção, luto e transição
Quero deixar claro que achei Wakanda Forever um dos melhores – senão o melhor – filme da Marvel desse ano. Então vou começar a falar das coisas boas para depois pontuar o que achei que poderia ser melhor.
Primeiro ponto é a emoção. Além de se pautar em temas como a ancestralidade, a negritude e o feminismo negro, o filme é emocionante em vários momentos, principalmente quando traz qualquer lembrança a T´challa. E são muitas lembranças a ponto de já começarmos o filme em lágrimas (ou, pelo menos, sentidos).
As personagens femininas são o ponto alto do filme, junto com o antagonista. Vou falar deles à parte.
Outro ponto que emociona bem é a caracterização e figurino. Ruth E. Carter, ganhadora do Oscar pelo trabalho no filme antecessor, foi substituída por Mobolaji Dawodu que seguiu a mesma linha, embora com menor grandiosidade.
O filme é também sobre luto, mas não é um filme SOBRE luto. Ele se apoia no luto pela morte inevitável do Rei T´challa para explicar os problemas decorrentes das questões de sucessão de Wakanda e do Pantera Negra, o protetor do país.
Porém, o filme não usa o luto como reforço narrativo principal. Prova disso é que há um salto temporal a partir da morte de T´challa, para demonstrar que apesar de ainda sentirem a dor da perda, as pessoas estão tentando retomar as suas vidas.
É um filme também sobre transição, afinal o maior desafio é saber se haverá algum sucessor do Pantera Negra após T´challa e depois do estrago feito por Kilmonger. Todos sabemos que Shuri herdará essa responsabilidade, o que foi mostrado nos trailers, mas a questão é como isso será feito na história.
Essa transição é construída de modo a trazer a mensagem que o poder de uma nação como Wakanda não é mostrado apenas por meio de uma figura, mas por diversas pessoas que se orgulham de ser quem são e lutam pelo bem de sua nação. Não há apenas um único salvador dos terrores enfrentados por Wakanda: o Pantera é o símbolo que serve de inspiração, mas cada um tem o seu papel.
Uma nação, afinal de contas, é formada pela união de um povo. Wakanda, apesar de estar em luto, não precisa lidar com essa divergência. Isso poderia ser mais reforçado no filme, mas a forma que foi mostrado não é, de todo, ruim.
O protagonismo de Namor
Dois personagens roubam a cena nesse filme: Ramonda e Namor.
Namor, interpretado por Tenoch Huerta, tem uma construção muito bem-feita na história. Assim como Kilmonger, que é pra mim um dos melhores vilões do MCU, Namor mostra sua origem, seu povo, a razão de seus poderes e a motivação que o guia por todo o filme.
Ele não deixa de acreditar nas coisas que acredita e ao longo da história toma decisões dentro daquilo que acredita ser o certo. É interessante que a gente compra essa motivação e por vezes não achamos que ele esteja errado.
Um outro grande acerto foi aproximar Namor de origens astecas, para distanciar da associação com Aquaman (que apesar de ser predecessor, foi o que apareceu primeiro nos cinemas). Namor é muito ligado às suas origens e ao seu povo e fará de tudo para protegê-los.
A caracterização também ficou muito boa. Se por um lado alguns personagens têm figurinos nada marcantes, Namor é um que recebeu muita atenção. Conseguiram trazer algo visualmente épico para um cara que usava apenas um cuecão e umas asinhas nos pés.
O empoderamento das personagens femininas
Angela Basset roubou a cena nesse filme, é inegável. Provavelmente tem mais tempo de tela até que Shuri, que se torna protagonista em uma história com tantos arcos marcantes. Cada cena dela é um calor no coração dos telespectadores.
Letitia Wright também tem seus momentos na pele de Shuri. A construção da personagem, entendendo o seu propósito, com base na sua ancestralidade e nos conselhos da mãe ficou perfeito. Já foi relevado nos trailers que ela é quem recebe o manto do Pantera e o filme constrói o processo dela de aceitação dessa responsabilidade, que até então parecia ser uma esperança perdida (pela forma com que o primeiro filme terminou).
Danai Gurira é extremamente carismática e já tinha roubado a cena no primeiro filme. Aqui ela continua com o mesmo carisma e presença, embora com menor tempo de tela. Sua Dora Milaje não tem um defeito (e ai de quem achar um), e dá pra sentir o amor que ela tem pela personagem. É uma guerreira impiedosa, pragmática e que coloca a honra acima de tudo.
Inclusive, apensar de pouco tempo em cena, Aneka (Michaela Coel) está incrível. Fizemos até um vídeo sobre a personagem nos quadrinhos.
Lupita Nyong´o retorna ao filme como Nakia, que era par amoroso de T´Challa. Agora, Nakia está levando a sua vida longe de Wakanda. O passado da personagem vem à tona e ela precisa voltar à sua terra natal para ajudar na trama principal. Com isso, acaba desempenhando uma função que tem consequências muito importantes para a história.
Por fim, Dominique Thorne no papel de Riri Williams está sensacional. Não é o único alívio cômico do filme, mas é uma das mais engraçadas. Infelizmente teve uma introdução rasa, mas não deixou de ser uma personagem interessante.
Queria que o filme desse mais atenção para alguns personagens e menos para outros, mas num contexto geral gostei da forma com que essas cinco (seis) foram mostradas. Reforça que Wakanda Forever é um filme, sobretudo, sobre os diferentes papeis de uma mulher negra empoderada.
Os pontos fracos do filme
Longo demais
Pessoalmente tenho implicado muito com essa cultura criada pela Marvel de filmes com mais de duas horas de duração. É difícil, a meu ver, defender que narrativas de super-herói precisam de tanto tempo em tela para passar uma mensagem.
Wakanda Forever é um filme cuja duração fica difícil de defender. Apesar de contar com apenas uma cena pós-créditos, tem algumas partes desnecessárias que prolongam o filme sem necessidade. A gente percebe quando determinada cena se arrasta e quebra o ritmo do filme.
Duas horas e quarenta minutos são muito tempo, e não é isso que será essencial para o filme ser grandioso em sua essência. Daí fica aquele gostinho que algumas coisas poderiam ser mais bem aproveitadas.
Falta alma?
Achei incrível que cinco mulheres pretas tiveram uma construção forte no filme, sem serem relegadas a funções meramente secundárias e acessórias. Porém, apesar de ter gostado muito do filme, há um sentimento de contenção, de que poderia ter sido feito algo mais grandioso, mais à altura do que o Pantera Negra foi.
O filme antecessor tem uma mensagem forte sobre orgulho em ser negro, mas o segundo filme peca um pouco nisso. Parece que não há uma mensagem tão forte a ser passada ou reforçada.
Outro ponto não muito legal é a falta de músicas marcantes para embalar o público nas cenas mais emocionantes do filme. A Marvel sempre brinca com isso, principalmente resgatando músicas famosas dos anos 80 e 90. Infelizmente não há muito disso nesse filme, o que é uma pena.
Embora eu não possa falar muito sobre como o filme toca em pontos defendidos pelo feminismo preto, percebo que até a mensagem de empoderamento é, às vezes, fraca, quando deveria ser mais reforçada ao longo da história. É aquele sentimento de que não é ruim, é um filme muito bom, mas poderia ter sido épico.
Final fraco?
Esse ponto tem relação com a duração do filme. São muitos arcos sendo trabalhados, muitas informações jogadas na história e poucas delas são realmente aproveitadas no final do filme.
Wakanda Forever começa com um problema diplomático influenciado pela ausência de T´Challa, e isso é deixado de lado para desenvolver outras tramas na história. No meio do filme, a gente mal lembra que aquilo aconteceu lá atrás e foca nas outras coisas que vão surgindo.
Porém dessas outras coisas que vão surgindo, algumas são também deixadas de lado. Por exemplo, há uma personagem que escapa no início do filme, dando a impressão que ela será importante em alguma coisa que vai acontecer depois. Ocorre que ela nunca mais aparece, o que torna o ato da fuga dela inútil. Coisas assim acontecem no decorrer do filme, mas não vou citá-las por conta de spoiler.
Tudo isso se mistura num emaranhado de informações que são colocadas para o público, ao mesmo tempo que o filme vai focando apenas em uma trama que envolve os wakandianos e o povo de Talokan. No final, não parece ter uma sensação real de perigo na batalha final. Nem a batalha final é marcante, se tomar por referência as lutas de Kilmonger e T´challa no primeiro filme.
Senti falta é desse sentimento de perigo real diante do mal que é apresentado, e como a luta final é preponderante para a solução desse problema. Da forma com que a história foi fechada, parece que o problema vai continuar existindo, não porque uma semente foi plantada na mente das pessoas, mas simplesmente porque não parece funcionar.
Isso não me pareceu uma boa solução, já que o problema trazido lá no início do filme continua. A questão diplomática ainda está lá, embora o filme a ignore e embora ela tenha sido o ponto que ligou tudo o que aconteceu depois.
Vale a pena?
Sim! Apesar de reconhecer os problemas que o filme traz, ainda continua sendo, pra mim, uma das melhores coisas que a Marvel fez nessa fase.
Wakanda Forever faz o que é esperado, embora pudesse fazer mais. Não é um filme épico, mas está longe de ser medíocre. Ah, e há uma cena pós-créditos que sim, vale a pena ficar pra ver.
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