A crítica recebeu positivamente o filme O Menu, chegando a colocá-lo como um dos melhores filme de 2022, e o público também tem gostado. Apesar de acreditar que as notas altas são exageradas, se você ainda não viu, vou te dar uns motivos para convencê-lo.
A história
O restaurante fica estrategicamente localizado em uma ilha. Todas as pessoas que trabalham no restaurante moram na ilha, que também fornece tudo o que é necessário para os pratos do menu preparado por Chef Slowik (Raplh Fiennes). No elenco também estão Anya Taylor-Joy (Margot), Nicholas Hoult (Tyler), Janet McTeer (Lilian) e John Leguizamo (estrela de cinema).
As reservas são feitas para, no mínimo, duas pessoas, e levam tempo – a não ser que o chef esteja inclinado a dar preferência a alguns convidados. A singela conversa no cais nos faz entender que aquele grupo foi criteriosamente selecionado para estar ali naquele dia.
Todos pagam uma verdadeira fortuna para estar ali, então logo identificamos que todos são ricos. Porém, ainda no cais percebemos que nem todos estão abertos a uma experiência gastronômica: estão ali apenas porque o dinheiro deles pode pagar por isso.
O grupo é formado por pessoas distintas, mas com similaridades que irão ser relevadas ao longo da história. Nenhuma delas necessariamente está ligada por algo pessoal ou se conhecem previamente, é mais algo a respeito de quem são, o que fazem e como fazem.
O contraste de Margot
O início do filme mostra um curioso grupo de pessoas sendo reunidos em um cais. Uma jovem descolada está com um rapaz rico, e ela entende que claramente não deveria estar ali. Seu desconforto vem principalmente da pergunta que ela faz, se ele quer que ela realmente esteja ali.
O casal se junta ao grupo formado com outro casal de idosos, um trio de jovens empresários, uma crítica gastronômica renomada e seu puxa sacos e um ator fracassado com sua assistente. Todos estão ali para ir até o restaurante do renomado Slowik e provar uma experiência exclusiva (e muito cara). O que aquelas pessoas têm em comum? Dinheiro, ao que tudo indica.
É pela perspectiva de Margot que seremos guiados nessa história. Sua forma jovial de se vestir já indica que ela não é uma daquelas pessoas. Ela não se importa com o que acontece ali, é alheia a toda a pompa do restaurante e está curiosa com coisas curiosas que ninguém parece notar.
Ela passa por diversos momentos durante o filme: medo, ódio, alívio, pânico. É ela que “vive” tudo o que está no filme e nos ajuda a entender o que realmente está acontecendo.
Cenas imersivas e muito “gráficas”
Várias coisas nesse filme fazem com que a gente se sinta dentro dele, dentro da história. A degustação dos pratos servidos e a expressão de cada personagem ao provar determinados sabores, as cenas violentas, os olhares.
De início a sensação é de estar entrando em uma experiência gastronômica única e exclusiva. Eu nunca provei um menu de degustação, mas na minha cabeça deve ser algo bem parecido com o que é mostrado nas duas primeiras partes do filme: pratos que contam uma história e tem um toque especial do chef.
O chef é o renomado Slowik, que comanda sua cozinha quase que com uma rotina militar. Os pratos são milimetricamente construídos, empratados e servidos, observando ainda tempo rigoroso de preparo. Esses elementos ajudam a entender um pouco a grande fama do chef no mercado.
O filme passa por uns momentos de clichê e a Taylor Joy está num papel quase que comum, que tem interpretado em vários outros trabalhos. Fiennes é que tem a melhor presença ali, apesar de não ser um papel com uma personalidade já interpretada antes.
Ok, mas e aquele final? (spoiler)
Se você acredita que ter sido pego de surpresa com o final, calma. Bem antes acontece algo que justifica a escolha de Margot pelo cheeseburger.
Vamos voltar algumas coisas. Slowik fala sobre ter perdido o prazer em cozinhar, ter perdido o sentido em fazer o que o tornou famoso. Apesar da inexpressividade do personagem, dá para sentir nas palavras que ele fala aquilo com um pouco de dor. Atender pessoas tão ricas e promover uma experiência gastronômica única é algo que tinha sentido pra ele, mas as pessoas não valorizavam.
Lembra que ela não tem interesse naquele universo de degustação de uma culinária requintada e de pratos exóticos, certo? Essa indiferença afeta o chef, que na sua arrogância acredita ser capaz de agradar o paladar de qualquer um. Ele enfatiza sempre “que tem de tudo na cozinha e que pode preparar qualquer coisa”.
Agora corta para a cena em que Margot sai do restaurante para pegar um barril, a pedido do chef. Ela encontra uma sala com recortes de jornal sobre a história de Slowik, e dentre eles, o primeiro trabalho dele foi na cozinha de uma lanchonete preparando hambúrguer.
Quando ela pede esse prato, ela resgata uma memória boa do chef e do início de sua carreira, além de desafiá-lo a preparar algo bom para alguém que realmente iria apreciar. Ela já estava manipulando ele ali e, não à toa, consegue sair daquela situação de cárcere e ficar livre.
Conclusão
O filme é bom, mas como um dos melhores lançamentos de 2022, isso é exagero. Para os mais atentos, vai ser divertido analisar a semiótica das cenas e dos elementos criando uma tensão ainda maior na história, mas para os menos analíticos, continua sendo um filme bem interessante.
Agora eu fiquei mesmo com vontade de ir em um restaurante com menu de degustação, por incrível que pareça.
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