O filme que estreou em setembro deste ano, dirigido por Olivia Wilde, foi permeado de polêmicas durante as filmagens. Desde confusões, brigas e até sumiços da diretora no set, isso acabou tirando um pouco a atenção do filme em si.
Será que vale a pena assistir? Vou contar pra vocês.
História e premissa
Com roteiro de X, a premissa não é lá uma novidade. É pautada no famoso mito da caverna, basicamente. E nem demora muito até que a gente perceba isso, até pela plasticidade da vida que as pessoas vivem.
Há um mistério envolvendo uma pequena comunidade, que vive uma vida dos sonhos. É tudo tão perfeito que logo percebemos que há alguma coisa errada que ainda não nos foi revelada.
Os maridos vão trabalhar todos os dias e tem aos seus lados esposas belas, maquiadas, magras e submissas, que são o perfeito sonho da dona de casa idealizada nos idos dos anos 1950 e 1960. Quando os maridos saem, elas arrumam a casa, fazem coisas triviais como compra de roupas, aulas de ballet ou passeios pelo bairro, tudo a tempo de voltar para a casa, preparar o jantar e se arrumar para a chegada dos maridos.
A comunidade é liderada por Frankie (Chris Pine) que é também o “dono” da empresa que os maridos trabalham, envolvida no “Projeto Vitória”. É um homem com um charme maligno, que consegue convencer todos sobre a existência de algum propósito.
Jack (Harry Styles) é casado com Alice (Florence Pugh) e, juntos, vivem uma verdadeira lua de mel. Porém, em determinado momento Alice começa a perceber algumas coisas estranhas ao seu redor e isso vai levando-a a questionar aquele mundo em que está inserida. Por ser a única a verbalizar isso, é tida como louca, como problemática e em vários momentos é silenciada.
Confesso ter gostado bem das atuações de Florence Pugh, Chris Pine, Olivia Wilde e Harry Styles, nessa ordem.
Falta ousadia para um filme que se vende ousado
Essa é, para mim, a forma que melhor define o filme.
O roteiro navega por uma história que já vimos repetidas vezes nas telas, mas não ousa ir além. Na verdade, quando a história vai crescendo, a sensação é que falta algo para o fechamento, algum elemento, uma alma.
Entendo que o filme precisa se firmar em alguns pontos inexplicados para estimular a criatividade do telespectador, mas aqui não acredito que seja o caso. Colocar que a motivação por trás do filme é a misoginia, o patriarcado? Explorar a ideia de que mulheres são tolhidas de suas escolhas e das vidas que querem viver? Não.
Embora prepare um terreno que possa induzir a esse tipo de interpretação, o filme acaba flertando com a ideia de que as personagens femininas querem sim ter a vida controlada por homens que as cercam. Pior, que elas aceitam retidamente que as mulheres que não concordam com esse sistema, sejam severamente punidas com a “morte”. Como se vê, não constrói nenhuma crítica séria.
Claro que isso é uma percepção minha. Houve quem elogiasse o filme como uma crítica ao machismo, contudo acho que essa crítica fica vazia. Quando uma personagem em específico confessa que escolheu viver essa vida de mentira, ainda que sufocada pelo machismo, do que ter que lidar com o mundo real.
Outra coisa é na maquiagem. Determinados personagens passam por situações de extremo stress e continuam com a pele impecável, sem olhos marcados ou uma mudança na maquiagem que demonstrasse o desgaste mental.
Veja bem, Florence Pugh é maravilhosa. Isso é inquestionável. Porém, uma cena específica em que ela está em um estado deplorável na cama, ao lado do marido, quase não dá para ver diferença da personagem em outras situações. Seria medo em deixá-la “feia”? Não sei.
Harry Styles, por outro lado, passa por maiores mudanças na aparência, o que ajuda a mostrar as diferentes fases do personagem ao longo da história.
Vale a pena?
Uma coisa é fato. Don´t Worry, Darling está longe de ser uma obra prima em termos de roteiro e de direção, mas acabou ficando marcado pelos problemas durante as gravações.
Não é um filme imperdível, mas a atuação de Florence se destaca muito e é um trabalho legal que ela participou. A gente termina com aquela sensação que filme é até bom, mas poderia ser muito melhor.
A parte boa é que já está no streaming pra gente assistir no conforto de casa.
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