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Foto do escritorLai Caetano

Não olhe para cima: você pode não gostar do que irá encontrar

A comédia da Netflix dirigida por Adam McKay (Vice, A Grande Aposta, O Ditador), que estreou no último dia 24 de dezembro, já entusiasmou o público com o premiado cast: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, além de Jonah Hill, Mark Rylance, Ron Perlman, Rob Morgan, Himesh Patel, Timothée Chalamet, Ariana Grande, Kid Cudi, Matthew Perry (num milésimo de segundo) e Tomer Sisley. Minha opinião sobre o filme, sem spoilers, vou contar aqui.

Tudo começa quando uma candidata a PhD a astronomia pela Universidade de Michigan, Kate Dibiasky, descobre um cometa durante o seu plantão no telescópio. Ela chama a equipe de pesquisa e seu orientador, Randall Mindy, para comemorar, pelo que todos vão investigando informações sobre a descoberta até que o Prof. Mindy descobre, pelos cálculos, que o cometa está vindo em direção à Terra. Com a história já apresentada, é em torno de como essa descoberta vai ser compartilhada que as 2h18m irão se desenvolver.

O filme é uma comédia ácida com alguns clichês sobre como as pessoas estão preocupadas em mediar os próprios interesses e como poderão obter algum benefício, mesmo quando o mundo está prestes a acabar.

As pessoas com poder, seja ele público ou midiático, estão interessadas em manter uma fachada, criada por elas próprias. E o poder midiático aqui não é apenas aquele de jornais sensacionalistas: o poder dos dados que redes sociais como o Facebook ou tecnologias como a da Apple são mostrados no filme de uma forma jocosa e, ao mesmo tempo, preocupante. Afinal, quem tem dados tem tudo, inclusive poder e controle sobre todas as pessoas.

Ali´ás, Peter Isherwell (Mark Rylance) dá um toque especial com um sorriso artificial, cabelos brancos e um jeito jovial, mostrando como uma pessoa com tanto poder em mãos não possui a menor empatia por outras pessoas ou pela situação que o mundo está passando, vive em um mundo infantilizado e tudo o que importa é impor a sua grande realização de vida (uma rede social “diferenciada” pautada em uma tecnologia “nova”). O personagem se junta em meio a tantos outros exemplos de como é possível capitalizar uma tragédia em prol dos próprios interesses.

A fotografia é bem interessante em alguns momentos. Nesse frame em específico nos ajuda a compreender o peso e a solidão da descoberta dos dois cientistas por ainda não terem compartilhado com “todo mundo” (ou com pessoas que pudessem realmente fazer algo a respeito com uma notícia dessas). O vermelho adiciona dramaticidade complementando os frames em que os dois protagonistas reagem ao desconforto do vôo.

Porém, apesar de tudo, ainda é um filme de comédia e é na próxima parte do filme que somos lembrados disso: quando a presidente dos Estados Unidos interpretada por Meryl Streep, entra em cena. O tailleur vermelho, as joias chamativas e o cabelo loiro artificialmente cacheado (remetendo facilmente a uma figura do mundo real) reforçam a personalidade fútil da “pessoa mais poderosa do mundo”, contrariando a tão maculada imagem do presidente dos EUA como o grande herói da humanidade, que vai salvar o mundo ao deixar seus interesses pessoais em segundo plano. Mesmo com essa “crítica”, o filme, como qualquer comédia estadunidense, não deixa de fazer a já estereotipada propaganda anticomunista quando menciona a China e Rússia.

Jason Orlean (Johan Hill) é assistente da presidente e filho. É quase que um personagem “padrão” de Hill quando ele interpreta um babacão. Dá para entender o personagem, sua caricatura “liberal” e influente, principalmente pelo símbolo que carrega em qualquer situação: uma bolsa Birkin (que custa em torno de U$200 mil dólares). Está longe de ser um personagem interessante mas é interessante analisar como ele complementa o arco da presidente.

A maquiagem de alguns atores está impressionante. Digo isso pois procurei saber muito pouco do filme e me surpreendi quando reconheci Cate Blanchett que está num papel em que nunca a vi antes, de uma forma que nunca havia visto. Por outro lado, a caracterização de personagens como o de Chalamet é bem fraca (pra não falar da atuação também que não está lá grandes coisas).

Você não vai ver aqui piadas necessariamente engraçadas de morrer de rir mas será apresentado a uma “hiperbólica” visão, com pitadas de humor negro, de como as pessoas dos mais diversos lugares, profissões, estilos de vida e espectros ideológicos iriam reagir a uma notícia do fim do mundo: religiosos, incrédulos, negacionistas, políticos, repórteres sensacionalistas, cientistas e até civis. No fim, a mensagem é que não importa o que possa acontecer com o mundo: prevalecerá sempre os interesses de uma classe dominante que não se vê abalada nem pelo anúncio do apocalipse.

Minha maior ressalva é quanto a duração. É um filme muito longo e se perde um pouco a partir da metade, embora consiga se manter dinâmico, num geral, ao contar a história.

Vale muito a pena conferir, principalmente para curtir os feriadões de fim de ano. Ah, tem duas cenas pós créditos: uma logo que o filme termina e outra após o letreiro.

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