O filme “Mary Queen of Scotts” (Maria a Rainha dos Escoceses), no Brasil com o nome bem equivocado de “Duas Rainhas”, estreia agora dia 04 de abril. Com direção de Josie Rourke, roteiro de Beau Willimon e figurino de Alexandra Byrn, conta com Saoirse Ronan (Mary), Margot Robbie (Elisabeth) nos papeis principais.
A história começa a ser contada com o que seria o último momento de Mary em vida, e aliás é em torno de Mary que todo o filme vai se construir. A partir daí, inicia a narrativa para nos explicar como Mary chegou àquilo, e então nos mostra o início da história de Mary quando retorna à Escócia, após um casamento na França em que acabou terminando como viúva.
Chegando em Edimburgo, capital escocesa, cujo país estava nas mãos de seu bastardo irmão James, Conde de Moray (James McArdle), Mary, rainha por direito não só da Escócia mas também da Inglaterra, volta para retomar o seu lugar. Na história, é assim que o destino das duas rainhas, Mary e Elizabeth, fica diretamente ligado e o filme explora esse ponto, mostrando artimanhas e estratégias que ora beneficiam uma rainha ou outra.
Os cortes da edição traçam, durante a narrativa, um paralelo entre a vida das duas rainhas, mostrando que em muitos momentos da vida ambas possam ter passado por situações parecidas durante fases parecidas da vida. Embora o propósito seja interessante, as passadas das cenas são bem óbvias e retira do telespectador a sensação de ir descobrindo as personagens principais enquanto a trama se desenrola. Em algumas vezes os cortes são rápidos demais e deixam cenas soltas, desnecessárias para o que se está contando ali e é nesses momentos que pensamos que o tempo de filme poderia ser gasto com outras coisas, dando mais profundidade aos personagens ou até explorando melhor as locações (que aliás, é um ponto baixo nesse filme).
Com o passar dos anos a Rainha Mary tem sido lembrada na Escócia como uma das mais importantes monarcas que já existiu por lá, sendo mencionada por suas diversas qualidades, dentre elas inteligência e a doçura. Para eles é quase uma “Virgem Maria”, que passou por muitas provações e ao final da vida, foi morta pela sua própria prima, em 1587. Saoirse passa essa essência para o público, pois começamos a se apaixonar pela personagem desde o início: suas falas, suas inseguranças mas sua preocupação em fazer o melhor pelo seu povo são razões que fazem a rainha ser lembrada nos dias de hoje.
Por outro lado, na Inglaterra, a soberana inglesa é mostrada de uma forma diferente em relação aos filmes que já vimos. Retrata a Rainha Elizabeth como alguém insegura, frustrada por nunca ter sido mãe e amedrontada por todas as pessoas que querem sua coroa, a todo custo. Elizabeth é aqui uma personagem acessória que serve como um dos elementos do crescimento da Rainha Mary (daí que a meu ver o título “Duas Rainhas” é equivocado).
Uma parte da história de Mary foi realmente viva no Palácio de Horywood, em Edimburgo (Escócia). Especificamente esse local foi usado como residência por membros da família real escocesa e é um dos únicos locais mencionados pelo filme, porém nenhuma tomada parece ter sido gravada lá. Pouco se explora boas locações para o filme tampouco os locais reais onde muitos fatos narrados ocorreram. É uma pena, pois são dois países repleto de paisagens, castelos, montanhas …
O filme se destaca muito na questão estética, que é onde parece ter ido a maior parte do investimento e da preocupação da produção. É uma forma “moderna” de contar uma história de mais de 500 anos. Os penteados, os vestidos, a presença de orientais e negros na corte remetem a filmes do Guy Ritchie, somados a uma história que parece ser contada para um público mais jovem, dando atenção demais, por exemplo, a namoricos entre criados da Rainha Mary. A trama em si, a relação entre as duas rainhas e o tão esperado encontro delas ao final são coisas trabalhadas superficialmente e isso chega a ser uma pena, já que estamos diante de uma história tão rica.
A própria linearidade da história deixa a desejar quando não há destaque para o crescimento das duas personagens, pela marca na história que deixaram. Parece, no fim das contas, que a preocupação é apenas contar como a Rainha Mary foi injustamente executada pela sua prima. Sou realmente aficionada pela história dessas duas rainhas e a sensação, após ter visto o filme, é que faltou algo a mais, que faltou uma essência ser trabalhada que fosse muito além daquilo apresentado no filme mas entender que se trata de uma ficção baseada em fatos reais seja, talvez, a melhor forma de aceitar esse filme. Ao final, é uma obra ficcional boa e não passa disso.
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