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Foto do escritorDaniel Miranda

(DES)Encanto: crítica

Estreou no Netflix dia 17 de agosto a série animada “(Des)Encanto“, criada por Matt Groening (Simpsons, Futurama). Se ainda não conferiu o trailer, dá uma olhada aqui:

https://youtu.be/-eFhSOjspq4

O desenho conta a história da Princesa Bean e seus amigos, Elfo e Luci (um demônio pessoal) numa cidade da Idade Média chamada Dreamland. O primeiro episódio (mostrado no trailer) apresenta o contexto que a Bean está com casamento marcado com um príncipe, numa aliança política que é almejada pelo seu pai, o Rei. Chega o dia do casamento ela se depara com um embrulho inusitado no meio dos presentes e ao abrir, descobre que ganhou um demônio pessoal que acaba virando um grande amigo. Na cerimônia, numa cena bem inusitada, o casamento não acontece e ela foge, conhecendo o Elfo no meio dessa fuga. .

Sem querer dar spoiler, as piadas, num geral, são engraçadas (embora nada que vá te fazer gargalhar com vontade) e o contraste feito com Luci e o Elfo são bem interessantes, mesmo que pudessem ser melhor aproveitados, já que é uma série essencialmente voltada para o público adulto.

E o que é a protagonista, a Princesa Bean? Com um visual inspirado em Daenerys (Game of Thrones) e uma personalidade que mais é uma mistura de Mérida (Valente) e Jessica Jones, a princesa dispensa o título e adora entrar aventuras malucas, intercaladas com paradas para degustar álcool (seja vinho ou cerveja). Em muitas cenas ela está bêbada, talvez para tentar mostrar a quebra de paradigma feminino normalmente retratado com protagonistas, mas no fim parece não sair da “mesmice” da princesa rebelde, embora seja engraçado que a Bean não “dê uma dentro”.

O humor da série é fraco a médio, “mais do mesmo” e não chega aos pés de Simpsons e Futurama, por exemplo. Então se sua expectativa é essa, pode abaixar isso aí para não se decepcionar.

Muitos sites tem comparado essa série como um misto de Simpsons + Game of Thrones mas não se engane: ela falha nas duas comparações. O humor cotidiano dos Simpsons tem reflexo nas piadas sobre peste negra, tabernas, cotidiano na cidade e etc., mas de uma forma mediana. Já em Game of Thrones, tirando os cabelos brancos de Bean, um trono de espadas (numa igreja) e o contexto de idade média fantástica, não tem qualquer outra semelhança com a obra de J.R.Martin. Honestamente, me lembrou muito mais das jogatinas de D&D do que qualquer outra coisa.

A história se perde no meio e no final parecem episódios feitos só pra você dar uma risadinha mesmo, mas dá pra se divertir mesmo assim.

A trilha sonora poderia ser melhor, com músicas mais animadinhas. Porém, isso não acontece e você vê uma cena de fuga, logo no primeiro episódio, com uma música lenta e calma: se tinha uma piada por detrás disso, eu não entendi.

Porém o pior está por vir…

DUBLAGEM

Não dá pra entender o que bateu na cabeça do diretor de dublagem para entregar um resultado desses … na dúvida, vá assistir legendado mesmo.

A primeira vez que vi a série, optei pela dublagem mesmo (porque é a forma que prefiro ver animação). O trabalho dos dubladores, em termos de qualidade, está excelente. O problema mesmo é com a direção que preferiu, na adaptação, não traduzir muitas piadas da série para inserir memes (pior, memes bem desgastados já). Por exemplo, esses daqui:


Dando um exemplo prático, no primeiro episódio ocorre o seguinte diálogo:

Versão originalNuma cena em que Bean empurra Luci pela escada, ela diz: “É assim que devolvemos presentes” e Luci apenas responde para ela tratá-lo melhor. A legenda é normal.Versão dubladaNa mesma cena: “Demônios machistas não passarão” ao passo que Luci responde para ela não ficar de “mimimi“.

É uma coisa que a gente assiste e fala: WTF

[Post edit] Os Irmãos Piologo fizeram um vídeo ilustrativo sobre isso:


O problema é que já fica cansativo e vai se tornando ainda mais. Parece preguiça da série dublada em criar piadas novas, reproduzindo coisas que eram engraçadas em 2010 por exemplo (como aquele do Didi falando “e… morreu“).

Ricky and Morty, a Hora da Aventura e Gravity Falls estão aí pra mostrar que criar piadas e memes novos, nas versões dubladas, é perfeitamente possível.

O humor já não é lá essas coisas e a dublagem é a cereja do bolo para ficar pior: é o que os Piologo falam que a série dublada causa mesmo um “desencanto“.

CONCLUSÃO

No fim vale a pena assistir, na versão legendada, por ser uma diversão leve, descontraída.

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