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Foto do escritorDaniel Miranda

Crítica | One Piece: Adaptação é uma carta de amor aos fãs

Crítica | One Piece: Adaptação é uma carta de amor aos fãs

sem spoiler

O live-action de One Piece finalmente estreia na Netflix depois de uma longa espera, desde seu anuncio em 2019. Em meio a muitas desconfianças e previsões tanto otimistas, e em sua grande maioria pessimistas, principalmente pelo histórico de adaptações que fracassaram ao longo dos anos.

O mangá, publicado desde 1997, é o mais vendido da história, o que trás um peso ainda maior para a Netflix, que teria a difícil missão de agradar tanto aos fãs de longa data do anime, quanto conquistar novos espectadores. Mas para a surpresa do publico, a versão live-action de Steven Maeda e Matt Owens é a melhor adaptação da Netflix superando muito seus antecessores (Cowboy Bebop e Death Note), A série conta com episódios  dinâmicos e fluidos trazendo de forma resumida mas sendo extremamente fiel ao material original de Eiichiro Oda, que de forma sucinta e sem enrolações já apresenta todo o universo de One Piece no primeiro episodio, acompanhando Luffy (Iñaki Godoy), um pirata novato que tem o sonho de encontrar o famoso tesouro que dá nome à série para se tornar o Rei dos Piratas.

A série abraça o universo fantasioso de One Piece sem medo, algo que me surpreendeu positivamente, pois tanto o mangá quanto o anime são marcados por personagens caricatos, e a série conseguiu trazer tudo isso, o cartunesco, que passa por telefones que são caramujos (Den Den Mushi), personagens variados com cabelos coloridos, cenários fantásticos com barcos e navios das mais variadas formas. É puramente  a obra de Eiichiro Oda ganhando vida.  O meu maior medo era o que sempre acontece: que era um possível live-action totalmente diferente do mangá e do anime, com diretores querendo impor sua assinatura trazendo algo mais real para as telas, numa pegada mais suja e escura como Piratas do Caribe.

Já basta o que vimos nesse ultimo filme de Cavaleiros do Zodíaco, que foi mal recepcionado pelo público. Acho que a indústria cinematográfica ao mesmo tempo que acerta em alguns filmes e series, inovando com algumas boas adaptações e direções, com uma visão de mundo diferente das obras originais. Na mesma medida a indústria se perde e acaba se tornando refém, querendo aplicar a mesma narrativa em outras produções como se fosse uma formula magica de sucesso e onde os diretores acham que para deixar a sua marca no filme é preciso descaracterizar a obra recriando uma visão diferente e pessoal da mesma.

One Piece chega para mostrar que bons diretores podem deixar sua marca através de uma boa adaptação de roteiro e decisões narrativas que não comprometem a obra original, mantendo a fidelidade e a essência de cada personagem e ao mesmo tempo deixando a sua assinatura. Podemos perceber o cuidado que a serie teve ao recriar até os detalhes mais sutis da animação e do mangá, como os frames abaixo.

Roteiro dinâmico

Ainda assim, a adaptação possivelmente não agradará a todos, principalmente aos que não gostam desse universo fantasioso, pois algumas caracterizações de personagens realmente, à primeira vista, são estranhas. Mesmo abraçando todo esse tom, a série tem um certo nível de violência interessante, tendo sua classificação etária de 14 anos.

A direção também faz um bom trabalho nas cenas de ação, dando ainda mais dinâmica nas aventuras vividas pelo bando, tendo como destaque  as coreografias de luta com  ótimas sequências de ação do Zoro (Mackenyu), Sanji (Taz Skylar) e Luffy. Isso é, tranquilamente, uma das melhores coisas da série!

O elenco também é destaque e certeiro em todas as suas escolhas. Todos os personagens foram muito bem adaptados e são extremamente carismáticos em cena. Destaque para Iñaki Godoy que incorporou de corpo e alma o Luffy, sendo o autentico capitão dos chapéus de palha. Emily Rudd entrega todo o charme, inteligência a malícia de Nami e Jacob Gibson conseguiu passar toda a inocência e lealdade do nosso querido mentiroso e contador de historias, Usopp.

As escolhas narrativas e o roteiro mais dinâmico ainda que possa incomodar alguns fãs, considero uma escolha acertada, pois deixou a obra mais objetiva e sem muitas enrolações. Isso é algo que os animes atuais estão fazendo e se difere de One Piece que ainda segue uma linha de animação semanal e que conta com mais de mil episódios.

Os roteiristas conseguiram condensar muito material criando situações para incorporar os personagens na trama de maneira orgânica e mantendo as referências a obra original. Em alguns momentos a velocidade dos acontecimentos pode gerar certo desconforto para quem acompanha o material o anime e o mangá,. Isso não foi o meu caso, que consegui compreender as escolhas narrativas e em vários momentos me emocionei, assim como quando assisti ao anime. Destaco principalmente com os flashbacks dos protagonistas, algo que foi uma exigência de Eiichiro Oda.

Entre os papéis secundários, Garp (Vincent Regan), Shanks (Peter Gadiot) e Buggy (Jeff Ward) são o grande destaque com boas interpretações, sendo Buggy uma grande surpresa, com Jeff Ward conseguindo trazer todo o carisma do personagem para o live-action.

Vale a pena?

One Piece é uma grata surpresa da Netflix trazendo finalmente uma adaptação coerente sem medo de ser fiel ao material original abraçando esse universo caricato e fantasioso com mudanças pontuais. Funcionando tanto para os fãs do mangá e anime, e como porta de entrada para novos fãs, principalmente aqueles que queriam conhecer a obra, mas não estavam dispostos a assistir mais de mil episódios do anime ou a ler mais de 100 volumes do mangá rsrsrsrsrsr. A produção de Matt Owens e Steven Maeda é a melhor porta de entrada para esse universo tão incrível e singular. sendo também um presente para os fãs de longa data, e que sempre sonharam em acompanhar o Bando do Chapeu de palha nessa linda e rica historia  que só Eiichiro Oda é capaz de criar.

Nota:  05/05

One Piece: A Série – 1ª Temporada (EUA, 31 de agosto de 2023) Criação: Matt Owens, Steven Maeda (baseado no mangá homônimo de Eiichiro Oda) Direção: Michael Katleman, Alex Garcia Lopez Roteiro: Matt Owens, Steven Maeda, Ian Stokes, Damani Johnson, Tiffany Greshler, Tom Hyndman, Laura Jacqmin, Diego Gutierrez, Allison Weintraub, Lindsay Gelfand Elenco: Iñaki Godoy, Emily Rudd, Mackenyu, Jacob Romero Gibson, Taz Skylar, Vincent Regan, Jeff Ward, Morgan Davies Duração: 60 min. cada episódio 1ª Temporada: 8 episódios 

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