A Disney mal comprou a FOX e já tem em suas mãos uma versão moderna e muito mais incrível que “A Bela e a Fera”. A mais nova obra de Guillermo Del Toro já se faz um jovem Clássico. Aqui temos um filme de autor, é notório a assinatura do diretor em tela em vários aspectos: na forma de filmar, na fotografia, no figurino, na paleta de cores e principalmente na estética que carimba o nome de Del Toro, algo que remete muito à de Hellboy. Fascinado por criaturas fantásticas Guillermo mais uma vez traz essa temática em sua filmografia agora por meio de um “Conto de Fadas” de maneira bem delicada, sensível, sutil e poética.
Filme ambientado 1960 no auge da Guerra Fria conta a história de Eliza (Sally Hawkins), uma mulher órfã e muda que trabalha como faxineira num laboratório em uma Base Militar Americana. Nesse cenário ocorre um incidente que coloca a protagonista frente a frente com a criatura anfíbia e sem nome cuja a única explicação de estar lá é que fora capturada pelos militares na América do Sul e trazida para aquele local para ser “estudada”.
Inicia-se então uma linda história envolvendo dois seres completamente distintos, um ser humano e uma criatura, isso é o grande trunfo do filme, pois o mais inexplicável e estranho torna-se poético. A paixão dos dois personagens que chega causar estranheza num primeiro momento transforma-se em algo natural principalmente pela atuação incrível de Sally Hawkins, uma muda que passa tanta sinceridade pela expressão corporal que quase não necessitamos de um tradutor. Conseguirmos nos conectar com todo o sentimento de sua personagem que encontra na criatura a sua alma gêmea, ambos se olham como jamais alguém os olharam, esses que rejeitados pela sociedade encontram entre si o amor verdadeiro.
O filme possui muitas camadas, além da história central cada personagem em paralelo traz consigo subtramas recheadas de conteúdo relevante que contribuem para o todo como a de Giles (Richard Jenkins) vizinho e amigo de Eliza que vive um artista em decadência que vê seu trabalho sendo substituído pela fotografia, além da crise da idade e o preconceito por sua opção sexual. A de Zelda Fuller (Octavia Spencer) faxineira, amiga e anjo guarda da protagonista que possuí problemas de relacionamento com um marido machista que não agrega a ela o mesmo amor. A de Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), responsável pelo laboratório que ao mesmo tempo que é agente duplo russo entra em constante conflito entre servir a sua Pátria Mãe ou seguir a ética de sua profissão.
E por fim a de Richard Strickland (Michael Shannon – atuação incrível), que a meu ver é a mais profunda das discussões, um humano que consegue ser mais monstro do que a própria criatura aquática por meio seus atos escusos, mesquinhos, preconceituosos e antiéticos; a sua primeira aparição já nos causa incomodo, pela forma do seu falar de e como se dirige aos demais principalmente em relação as mulheres. Certa cena do filme o mesmo vai a uma loja comprar um Cadilac e o vendedor indica o melhor carro dizendo que aquele era um automóvel para homens com visão de futuro, uma ironia visto que muitos homens do nosso tempo presente pensam como Strickland.
O diretor brilhantemente usa a água em vários detalhes na película, ela é quase uma personagem ou um elemento condutor central na trama, cheios de analogias e referências desde o fato de Eliza ter sido encontrada ainda bebê à margem de um rio a vários outros detalhes, como um copo derramado, a chuva e a tonalidade verde/azul da paleta de cores contribuem para que esse elemento seja destacado e conecte com aspectos do roteiro.
A Forma da Água é uma obra prima de del Toro, tudo feito de uma forma magistral, um filme poético, um conto de fadas, uma linda homenagem ao cinema, com atuações incríveis e arrebatadoras, uma obra que necessita ter sensibilidade para aproveitá-la do máximo, sem sombra de dúvida um dos principais favoritos ao Oscar.
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