Apesar da estrondosa repercussão do filme Barbie por conta do marketing investido no filme de Greta Gerwig, Barbie está aí desde “sempre”. Inspirado no posto do WIPO, vou explicar como isso aconteceu.
Surgimento
A primeira Barbie foi criada em março de 1959 pela empresária Ruth Handler, que também é co-fundadora da Mattel. Ela percebeu que sua filha, Bárbara, adorava brincar com bonecas de papel, simulando adultas que conversavam entre si e trocavam de roupas. Importante que na época não havia opção no mercado de brinquedos que não fossem inspirados em bebês. Então, utilizando como principal inspiração a boneca alemã Bild Lilli, produzida entre 1955 a 1964, Handler lançou a sua versão da boneca em Nova York na American Internacional Toy Fair em 1959, dando a ela o nome de Barbie.
Lilly de um lado e Barbie de outro: uma cópia descarada? Veremos
Desde seu lançamento para o mercado, a boneca Barbie transformou o mercado de brinquedos criando um nicho para venda de mercadorias relacionadas (como acessórios, roupas, amigos e parentes da boneca). Diversas outras marcas fizeram parceria com a boneca, como o McDonalds (que lançou uma lanchonete da franquia no universo da boneca) e a Ferrari.
A marca se expandiu bastante e se tornou uma franquia multimídia no final dos anos 1980, incluindo desenhos, filmes animados e videogames. Em 2017 esse conteúdo foi também para o streaming. Para se ter ideia, Barbie é responsável por 25% da receita da Mattel.
Barbie como marca
A história da boneca Barbie se desenrola junto com as controvérsias legais envolvendo a própria marca. Porém, antes de citar algumas, vou falar um pouco do registro da própria marca em si.
O sucesso do filme é atribuído, sobretudo, ao poder da marca da Mattel no mundo. Esse poder só existe porque trata-se de uma marca amplamente protegida que atualmente no nome, nas logos, no desenho da boneca e no slogan. Legalmente falando, o que isso significa? Significa que, ao proteger uma marca, o detentor possui direitos exclusivos de uso e exploração, podendo impedir qualquer um de fazer uso da marca, caso queira.
O primeiro registro da marca foi feito em 02/07/1959 pela Mattel. O registro original pode ser consultado aqui. Desde então, a logo passou por cinco mudanças, todas devidamente registradas, até que, desde 2009, a Mattel resolveu voltar a utilizar a logo original.
O formato da boneca também é protegido: sua fisionomia, formato do rosto e do corpo. Curiosamente, até o “rosa”, conhecido como rosa Barbie, é protegido. Tudo é de propriedade da Mattel.
A primeira briga legal da Barbie
O primeiro impasse legal da Barbie veio da própria empresa detentora dos direitos de Lilly.
Bild Lilli foi criada a partir de uma personagem de quadrinhos de Reinhard Beuthin para o jornal alemão Bild. A Lilly dos quadrinhos era uma loira sensual, trabalhadora, inteligente e determinada e com isso a boneca acabou sendo inicialmente voltada para o público adulto, caindo posteriormente na graça das crianças alemãs. Handler teve contato com a boneca alemã em uma viagem de férias da família ao país. Então, comprou algumas unidades – uma para presentear sua filha e outras para levar à Mattel.
Só que simplesmente recriar a boneca nos Estados Unidos e lançá-la no mercado não era algo moralmente correto a se fazer, já que a boneca estava protegida pelos direitos de criação. Greiner & Hausser era detentora da patente dos desenhos da boneca (como formato e estrutura do quadril por exemplo) e a Louis Marx and Company detinha os direitos. Então, em 1961 a Mattel recebeu o processo por infração de patente, ao passo que a empresa norte-americana também se vendia como criadora original do design da boneca conhecida como Barbie.
Como o caso foi resolvido? Fora dos tribunais. As marcas chegaram a um acordo que não foi divulgado. Porém, anos depois, a Mattel adquiriu os direitos autorais e a patente da boneca nos anos 1960.
Porém o interessante é que essa novela não acabou por aí. Em maio de 1961 a Greiner & Hausser moveu um novo processo na Alemanha alegando a violação do acordo pela Mattel.
Barbie e a banda Acqua
Nos anos 200 a Mattel processou a banda norueguesa Acqua pelo uso indevido da marca Barbie na música Barbie Girl (que ficou muito famosa na época e foi relembrada ultimamente com o lançamento do filme). O processo foi resolvido somente em 2003, dando vitória à Mattel.
De acordo com o processo, a Mattel não concordava com a música que trouxe um teor sexualizado à boneca e com o uso não autorizado do “rosa Barbie”, alegando que isso afetou o marketing da empresa. A música, porém, é uma crítica aos padrões de beleza e pessoas “falsas” e o processo foi arquivado por considerar o trabalho do Acqua uma paródia (o que não é proibido pela lei nem infringe direito autoral). Dessa a Kelly Key ficou livre!
Barbie para adultos?
A Mattel também já entrou com um processo contra um site inglês chamado “ChinaBarbie” que começou a utilizar a marca Barbie para venda de produtos voltados ao público adulto. Teve também processo contra um site norte-americano “Barbiesplaypen” com o mesmo teor. Nos dois casos, a Mattel ganhou.
BBB: Barbie Big Brother?
A boneca esteve envolvida em uma grande polêmica, dessa vez por culpa dela mesma. Considerada como a Barbie mais controversa de todos os tempos, a Video Barbie Girl lançada em 2010 tinha uma câmera no colar e um visor nas costas que mostrava tudo o que estava sendo filmado. Tinha capacidade de gravar 30 minutos de vídeo.
Os pais, muito preocupados, acionaram o FBI, que eventualmente publicou um alerta do risco da Barbie em termos de leis de privacidade. Não se sabia se as gravações poderiam ser compartilhadas ou vistas por terceiros e, por isso, havia um receio real que esse material pudesse ser usado para fins de pornografia infantil. Em resposta, a Mattel informou que essa Barbie não infringia nenhuma lei e que não haviam sido verificados nenhum tipo de incidente envolvendo o mal uso da boneca e das gravações.
Barbie x Burberry
Essa é bem interessante. A Mattel processou a grife de roupas Burberry pois segundo aquela, a marca BRBY (que compôs um pedido de registro em 2022) é muito semelhante a Barbie em termos de pronúncia, aparência e impressão comercial. Olha aí e vê se não parece mesmo:
O caso ainda não foi resolvido mas as partes podem entrar em um acordo a qualquer tempo.
Barbie sem sempre é bagunça
Barbie está em todo o lugar desde muito tempo e isso se deve aos esforços da Mattel em zelar pela popularidade e boa imagem que a marca construiu ao longo dos anos. E aí, sabem de alguma outra polêmica judicial envolvendo a boneca?
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