Bailarina | A quem devo lealdade?
- Bella Guedes
- 5 de jun.
- 2 min de leitura
Imagine crescer em um lugar onde cada passo de balé te ensina a matar. Bailarina começa assim: com ritmo, precisão e uma tensão que pulsa sob a delicadeza aparente. É impossível não ser fisgado pela ambiguidade da protagonista: forte, treinada, implacável, mas ao mesmo tempo esculpida em fragilidade não assumida. O filme te chama para uma dança que, mesmo sem música, tem um compasso bem claro: sobreviver.

Coreografias de aço
As cenas de luta são hipnotizantes. A fluidez dos movimentos transforma cada confronto em uma espécie de performance, mas essa beleza vem com um preço. Em meio à perfeição da técnica e a repetição maçante das cenas, a protagonista deveria se amassar, sangrar e se quebrar, porém a quase inexistência desses detalhes distancia a personagem do realismo. Porque até os corpos mais preparados falham e é justamente na falha que mora a humanidade.

Família é escolha?
Entre socos e tiros, Bailarina fala, na verdade, de família. Não só da de sangue, mas da que se constrói na dor, na dívida, no contrato ou na devoção. Cada personagem parece orbitando um conceito diferente de pertencimento, e é nesse ponto que o roteiro acerta em cheio. Afinal, o que nos prende de verdade às pessoas: a origem, a criação ou aquilo que decidimos proteger, mesmo quando já não faz sentido?

Instinto antes de intenção
Eve, a protagonista, não calcula seus movimentos, ela avança. Não há disfarce, hesitação ou análise prolongada, há impulso. O filme constrói uma protagonista que reage com o corpo antes mesmo de pensar com a mente. É mais instinto do que estratégia, mais caça do que jogo. Isso a torna brutalmente eficaz, mas também menos misteriosa. Não se trata de um duelo psicológico, mas de uma presença que impõe medo pela determinação crua.

Quando a perfeição engasga
Apesar do brilho técnico, Bailarina escorrega quando esquece que emoção também precisa de tempo. Tudo é rápido demais, bonito demais, limpo demais. Mas há potência nas entrelinhas. Na personagem que carrega o trauma como motor. No corpo treinado para matar, mas que ainda busca sentido. Talvez o jeito certo de contar essa história não seja o único jeito, mas é o que ela escolheu. E, mesmo com os tropeços, ainda vale o ingresso.

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