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Foto do escritorDaniel Miranda

A Freira

Um convento. Uma freira. Um portal secreto… o que estes elementos até então passivos fazem em um filme de terror?

A resposta está em A Freira. Unindo uma proposta bem sagaz de aproveitar a (provavelmente) personagem mais assustadora de Invocação do Mal, A Freira chega aos cinemas com uma história particularmente intrigante em um passado remoto decifrando a misteriosa origem de Valak.

Para quem não sabe, ou não viu Invocação do Mal, (e aproveito para recomendar fortemente que o faça!) Valak é um pressuposto demônio que assume a forma de uma freira em busca da proliferação do mal.

Em Invocação do Mal, especialmente em sua continuação, vemos Valak em sua forma original demonstrando um poder assustadoramente superior sobre todas as misteriosas entidades já combatidas pelos Warren*

E sim. Ela é assustadora. E sim. Merecia um filme próprio.

A história se dá em uma inóspita cidadezinha da Romênia que presencia o suicídio de uma freira no convento em que vivia. A morte precoce da jovem faz com que o Vaticano envie padre Burke (Demián Bichir), um católico que investiga casos sobrenaturais para a Igreja.

Sob as ordens do Papa, Burke vai atrás de irmã Irene (Tassia Farmiga – American Horror Story), uma noviça que, inexplicavelmente fora indicada pelo Vaticano para auxiliar no caso e, em especial, ter acesso ao convento que por estar em permanente clausura não aceita figuras masculinas no local.

Eles partem para a bucólica cidadezinha e lá encontram Frenchie (Jonas Bloquet), o primeiro a avistar o corpo da freira. Guiados por ele, vão em direção ao convento, já sabendo pelo rapaz que era um lugar considerado ameaçador por todos os habitantes do vilarejo.

Erguido no meio de uma densa floresta, a gigantesca construção, silenciosa e assustadora, tinha em sua entrada  um deprimente cemitério, feito com cruzes tortas e jazigos já quebrados pelo tempo. Frenchie os leva aonde deixara o corpo da freira – um quartinho que servia para que as freiras pudessem pegar os mantimentos da cidade – e lá encontram a primeira surpresa: o corpo não estava da forma que o rapaz havia deixado.

Inicia-se então o processo de investigação, e todos os passos dados pelo trio de “forasteiros” no convento os leva a situações terrivelmente assustadoras.

O que achei do Filme?

James Wan é bem conhecido por seus filmes de terror. É certo que muitos deles não são, de fato, muito bons, (vide Jogos Mortais V), mas temos alguns resultados notáveis que estão fazendo seu nome em Hollywood, como Sobrenatural e Invocação do Mal.

Em A Freira, Wan entra como roteirista e produtor, e o filme tem a assinatura de Corin Hardy (A Maldição na Floresta). A química é bem harmoniosa, o que demonstra um filme maduro e coerente. O problema é que Wan escorrega em alguns momentos no roteiro, utilizando um humor desnecessário e totalmente desajustado nas cenas em que está, e com isso quebrando climas importantes da composição de terror e deixando os personagens meio bobos.

Além disso, a explicação muito detalhada da criação do mal mata um pouco aquele mistério gostoso que existe em bons filmes de terror. Parafraseando Hitchcook, deixar a porta sempre entreaberta e nunca escancarada, porque o terror está em nunca saber exatamente o que se encontra atrás dela.

Mas este pequeno “deslize” não atrapalha o contexto geral do filme. E isto graças ao excelente trabalho da Direção de Arte, Fotografia e Trilha Sonora. Com um cenário gótico impecável, o filme consegue nos transportar não somente à época, mas ao clima totalmente sombrio e arrebatador do convento. Ele se torna um personagem vivo, e sua beleza macabra e silenciosa me lembra a antiga série de Stephen King, Rose Red, onde a casa mal assombrada tinha tanta vivacidade e horror, que parecia uma entidade em si. E esta entidade, feita de concretos, cinzenta e aparentemente gélida em sua essência é o cenário perfeito para o que os personagens viverão naquele local.

Já a fotografia representa todo o ambiente de um clássico filme de terror: penumbra, névoa e mistério… tal qual as lençóis que vão, um a um se revelando ao longo do caminho de padre Burke em uma cena particularmente tensa, e que presenciamos também em igual intensidade em uma cena particular de Inovação do Mal I: são os segredos sendo revelados aos poucos, e em pequenas doses para aumentar nossa frequência cardíaca e nos fazer suar um pouquinho na cadeira do cinema. O elemento básico de um bom filme de terror.

E claro, a trilha sonora. Não apenas como coadjuvante, para ocupar espaços vazios e sem falas nas cenas, mas como um agourento toque de anunciação das Trevas, revelando momentos críticos e sombrios. E nesta maestria musical, foi criado uma composição para indicar todas as aparições de Valak em cena, um som tão denso e singular, que conseguiu representar com simplicidade o grande peso da personagem na trama. É realmente muito fácil se arrepiar toda a vez que se escuta o som grave utilizado para representá-la.

Mas, afinal é bom?

Estes elementos transformaram A Freira em um filme contemporâneo com fortes pegadas dos clássicos moldes da década de 70 e 80. O roteiro foi denso e muito bem ligado ao contexto geral da história, se tornando um spin-off de Invocação do Mal muito coerente com ligações bem vivas que farão qualquer fã dos filmes vibrar. Mesmo com as escorregadas já mencionadas aqui do roteiro, o resultado final é bem atraente. E assustador.

Os atores tiveram uma ótima conexão. Estavam muito à vontade em seus personagens e conseguiram passar aquela empatia tão importante e definitiva nos filmes de terror.

E por fim, conseguiram construir uma entidade realmente convincente que consegue, em cada cena, impressionar com seu mistério e horror, demonstrando o conceito de Mal como uma força tão poderosa e quase indestrutível.

A cena final que, poderia fazer com que Valak perdesse este “encanto” amedrontador não faz com que ela perca a magnitude: seu surgimento na cena é tão bem construído que, apesar de não passar muito medo, nos deixa de certo modo admirados diante de sua magnitude.

*Os Warren, mencionados no início do post, se referem ao casal principal de Invocação do Mal I e II: Ed e Lorraine Warren. Eles foram inspirados no casal que, na vida real, manteve durante muito tempo um museu dentro de sua própria casa com objetos que supostamente encerravam entidades do mal.


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